Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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a ex<strong>em</strong>plo da proibição <strong>de</strong> sua entrada nos cin<strong>em</strong>as da Empresa Teatral <strong>de</strong> São Paulo 118 .<br />
Situações <strong>de</strong>ste tipo provocavam a consciência <strong>de</strong> que a socieda<strong>de</strong> brasileira lhes era<br />
<strong>de</strong>vedora, e fazia crescer a crença <strong>de</strong> que a superação <strong>de</strong> suas dificulda<strong>de</strong>s se daria através<br />
da educação – el<strong>em</strong>ento que lhes fora negado durante o período da escravidão:<br />
Somos viciados, somos incultos, somos atrasados e analfabetos? A culpa não é nossa:<br />
interrogai os quatrocentos anos do nosso ferrenho cativeiro, interrogai o miserável regime<br />
<strong>de</strong> obscurantismo <strong>em</strong> que fomos criados, interrogai a lei do atavismo e da hereditarieda<strong>de</strong>.<br />
O nosso livro foi a chibata – e a nossa escola foi a senzala! 119 [grifos meus]<br />
Os ditos “atraso”, “incultura” e “analfabetismo” geravam muitas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho. Emprego era o outro tópico que também constava no<br />
topo dos reclames dos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> escravos, que sentiam dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> conseguir<br />
trabalho, como <strong>de</strong>nunciou um leitor do jornal O KOSMOS: “que por ser preto não<br />
encontra <strong>em</strong>prego <strong>em</strong> parte alguma!”. As restrições pareciam ser tantas, que o jornalista<br />
Benedicto Florêncio dizia t<strong>em</strong>er o surgimento <strong>de</strong> grupos similares dos “terríveis monstros<br />
mascarados” como os da “socieda<strong>de</strong> secreta Klu Klux Klan”, dos Estados Unidos da<br />
América 120 . O certo era que muitos dos postos <strong>de</strong> trabalho pareciam estar fechados para os<br />
negros, principalmente nas cida<strong>de</strong>s, como observa o historiador George R. Andrews - “os<br />
<strong>em</strong>pregos nas fábricas, oficinas e lojas da cida<strong>de</strong> não eram para os afro-brasileiros”. E,<br />
como explica este autor, o fato se dava não como resultado <strong>de</strong> uma política pública<br />
discriminatória, mas das muitas, quiçá milhões, <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões individuais, tomadas pelos<br />
patrões, que <strong>de</strong>cidiam a qu<strong>em</strong> iriam ou não contratar 121 . Não raro preferiam os imigrantes,<br />
como <strong>de</strong>nunciou O CLARIM D’ALVORADA:<br />
O negro foi substituído pelo imigrado, o pobre ficou s<strong>em</strong> norte, iludido com a sua carteira<br />
<strong>de</strong> eleitor e com o seu título <strong>de</strong> cidadão brasileiro, mas não o ensinaram a ler n<strong>em</strong> a<br />
escrever; classificado pelos altos sociólogos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> raça inferior. 122<br />
118 O PATROCÍNIO (Piracicaba, SP), 22 abr 1928.<br />
119 O KOSMOS (SP), 16 nov 1924.<br />
120 O KOSMOS (SP), 19 out 1924.<br />
121 ANDREWS, George Reid. Negros e Brancos <strong>em</strong> São Paulo (1888 – 1988). Bauru: EDUSC, 1998. p.117.<br />
122 O CLARIM D’ALVORADA (SP), 01 jul 1928.<br />
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