Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

o passaporte definitivo para a escalada social dentro de sua própria família, nos círculos
elitistas baianos, e depois nacionais.
As recorrentes referências e exaltação à história de família, envolta em realidade ou
não, servia a Pedro Calmon para a sua própria afirmação dentro dos seletos círculos das
elites brancas letradas. Amparado no sobrenome, disfarçava a sua original condição de
parente necessitado ao se tornar historiador oficial dos feitos ancestrais de seu clã. Fazia-se
importante para a continuidade da legitimação da família ao tecer, e fortalecer, suas
relações com as raízes do poder ao longo da história nacional 72 . Isso fica bastante explícito
em O Marquês de Abrantes, onde Pedro Calmon exalta a memória do Miguel Calmon
ancestral 73 , ressaltando as questões nacionais de que este se ocupou – a exemplo das lutas
pela independência do Brasil, e a política de atração de imigrantes europeus para resolver o
“problema do povoamento e da civilização do Brasil” 74 .
Esta posição conservadora define a distância de Pedro Calmon dos movimentos
modernistas que ganharam fôlego a partir de fevereiro de 1922, com a Semana de Arte
Moderna em São Paulo. Enquanto alguns intelectuais vanguardistas procuraram romper
com a Academia Brasileira de Letras, considerada por estes um dos “símbolos
materializados do passadismo a combater” 75 – na análise da historiadora Ângela de Castro
Gomes-, era justo lá que Pedro Calmon almejava ingressar.
Durante a década de 1920 a ABL se tornou alvo de polêmicas entre intelectuais.
Alguns mais contundentes, como Graça Aranha, membro fundador, abandona a sua cadeira
em nome do “espírito moderno”, declarando em meio a vaias e aplausos, em 1924, nos
72 CHALHOUB, Sidney. “Ciência e ideologia em Memórias póstuma de Brás Cubas”. In: Machado de
Assis: historiador. São Paulo: Cia das Letras, 2003. p.94-130.
73 Miguel Calmon du Pin e Almeida, o Marquês de Abrantes [1796-1865]. Foi Ministro da Fazenda no
Primeiro e no Segundo Reinado, ocupou ainda diversos cargos políticos como Deputado, Senador, participou
de missões diplomáticas no exterior, e participou da fundação de uma companhia de colonização na Bahia.
74 CALMON, Pedro. O Marquês de Abrantes. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara. 1933.
75 GOMES, Ângela de Castro. Essa gente do Rio... : modernismo e nacionalismo. Rio de Janeiro: Ed. FGV,
1999. p.29
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