Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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105<br />
presente, comprometido com o passado, esperançoso do porvir. <strong>33</strong> [grifos<br />
meus]<br />
Embora vinculado ao passado, e valendo-se <strong>de</strong>le como instrumento <strong>de</strong> construção<br />
<strong>de</strong> um futuro que lhe fosse mais interessante, <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> estava mesmo comprometido<br />
com o presente, engrossando uma vertente historiográfica que adquire formas mais<br />
robustas com o recru<strong>de</strong>scimento da política <strong>de</strong> Vargas, e a instauração do Estado Novo<br />
(1937). Os intelectuais locais – que também eram os integrantes das classes dirigentes –<br />
<strong>em</strong>penham-se <strong>em</strong> construir uma m<strong>em</strong>ória histórica <strong>de</strong> seus grupos, visando legitimar seu<br />
po<strong>de</strong>r regional na tradição. É o que d<strong>em</strong>onstra Paulo Santos Silva, acerca da produção<br />
historiográfica <strong>de</strong> Wan<strong>de</strong>rley Pinho, Nestor Duarte, Luiz Viana Filho e Afonso Rui:<br />
A luta pela retomada da autonomia da Bahia nos anos 1930 conjugou-se ao<br />
trabalho <strong>de</strong> reconstituição do passado, resultando um amplo painel da socieda<strong>de</strong><br />
baiana que reafirmava o passado <strong>de</strong> autonomia <strong>de</strong> suas elites. [...] A “m<strong>em</strong>ória”,<br />
ou a “quase-m<strong>em</strong>ória”, ou “quase-história” cumpriu o papel <strong>de</strong> reforçar o<br />
tecido social dos grupos políticos que buscavam apoio no passado para<br />
justificar suas pretensões no presente. Assim, ativida<strong>de</strong>s políticas e<br />
intelectuais convergiram, encontrando-se na produção historiográfica. No exame<br />
<strong>de</strong>sta historiografia ficam evi<strong>de</strong>ntes seus débitos sociais e políticos para com<br />
as circunstâncias nas quais foi elaborada. 34 [grifos meus]<br />
Mesmo sendo Malês um texto ficcional, um romance-histórico que mistura história,<br />
m<strong>em</strong>ória e liberda<strong>de</strong> criativa, acaba por cumprir este papel <strong>de</strong> “quase-m<strong>em</strong>ória” ou “quase-<br />
história”. Seu t<strong>em</strong>a e abordag<strong>em</strong> o aproximam <strong>de</strong>sse estilo historiográfico, e po<strong>de</strong> ser<br />
indicado como prenúncio <strong>de</strong>sse movimento, que teve como maior expoente Wan<strong>de</strong>rley<br />
Pinho. <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>, na tentativa <strong>de</strong> resgatar uma história <strong>de</strong> autonomia e po<strong>de</strong>r, vale-se,<br />
<strong>de</strong>ntre outros artifícios, <strong>de</strong> traduzir os antigos valores aristocráticos, nas l<strong>em</strong>branças dos<br />
salões do século XIX. Por isso, sua novela t<strong>em</strong> início <strong>em</strong> um baile <strong>de</strong> começo <strong>de</strong> ano, na<br />
mansão <strong>de</strong> José Cerqueira Lima, no bairro nobre da Vitória – on<strong>de</strong> se reunia, na sua<br />
<strong>33</strong> CALMON, <strong>Pedro</strong>. M<strong>em</strong>órias. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1995. p. 189.<br />
34 SILVA, Paulo Santos. Âncoras <strong>de</strong> Tradição: Luta Política, Intelectuais e Construção do Discurso<br />
Histórico na Bahia (1930-1949). Salvador: Edufba, 2000. p.234.