15.05.2013 Views

Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Adotando esta mesma tônica, <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> apresenta a seus leitores os santos que<br />

protegiam o terreiro do velho José dos Milagres, <strong>de</strong>screvendo “ídolo[s] bizarro[s]”, afeitos<br />

ao “bestial espírito africano”, que expressavam o “símbolo <strong>de</strong> velhas raças guerreiras e<br />

tormentadas”, exibindo figuras que eram “misto <strong>de</strong> caricatura e <strong>de</strong> monstro” 64 :<br />

116<br />

Xangô [...] inspirava o terror dos el<strong>em</strong>entos... Iansã [...] nu<strong>de</strong>z <strong>de</strong> Astarte negra [...] Erês,<br />

macrocéfalos e pernicurtos [...] Oxum [...] seios fartos [...] atitu<strong>de</strong> tranqüila <strong>de</strong> oferenda [...]<br />

Oxossi, o caçador, vesgo e disforme [...] aterrorizava [...] I<strong>em</strong>anjá, entre lava<strong>de</strong>ira e Cibele,<br />

Tétis e Jocasta nagô [...] Echá-abicú e Egun-ecutó, as forças f<strong>em</strong>inina e masculina, <strong>de</strong><br />

salientes orelhas <strong>de</strong> morcego e olhos superficiais e estúpidos [...] Orungã e I<strong>em</strong>anjá, espécie<br />

<strong>de</strong> Ceres e Netuno [...] Estanha associação <strong>de</strong> cultos, assinalando a transcrição entre o velho<br />

fetichismo, os mitos oci<strong>de</strong>ntais e a conversão cristã, quando o babalaô já não podia <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong> ter sob o seu telheiro as imagens católicas. [Malês, p.104-5]<br />

A linguag<strong>em</strong> do autor, elaborando o panteão do Candomblé <strong>em</strong> referência à<br />

mitologia grega também era característica ao período - uma estratégia elitista para<br />

compreensão dos mitos africanos, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma lógica evolucionista e eurocentrista.<br />

Quando a festa à I<strong>em</strong>anjá foi noticiada no verão <strong>de</strong> 1930, a matéria do jornal A TARDE<br />

esclareceu que “o culto da , ou melhor , r<strong>em</strong>ontava<br />

aos t<strong>em</strong>pos mitológicos”, fazendo referência à <strong>de</strong>usa pagã que teria imensa popularida<strong>de</strong>:<br />

Des<strong>de</strong> então, até os nossos dias, o culto religioso da filha dileta <strong>de</strong> Netuno com Anfritite se<br />

t<strong>em</strong> mantido com fervorosa <strong>de</strong>voção seja pelos pescadores das Costas da Sicília, até a nossa<br />

gente ingênua, que herdou essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé quando do advento os primeiros africanos<br />

que aportaram á Bahia.<br />

Aqui predomina o sentimento cultual sob processos genuinamente selvagens, visto como<br />

acaba s<strong>em</strong>pre por gran<strong>de</strong>s bailados africanos ditos “candomblés”. 65<br />

Pod<strong>em</strong>os observar a concordância <strong>de</strong> <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> com os mesmos tons <strong>de</strong> crítica<br />

do jornal acerca do Candomblé, fruto <strong>de</strong> “processos genuinamente selvagens”. Em Malês<br />

os ditos “bailados africanos”, surg<strong>em</strong> na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> “os mesmos ritos, a mesma dolente<br />

música dos batuques das selvas, as mesmas cores votivas, a mesma dança lasciva e<br />

64 Malês, p.27-8.<br />

65 A TARDE. Salvador, 06 fev. 1930.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!