Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Chamava a atenção <strong>de</strong> que para se estudar o negro na história brasileira era preciso<br />
compreendê-lo na realida<strong>de</strong> cotidiana da escravidão 12 .<br />
Os dois autores se aproximaram, contudo, quando favoreceram <strong>em</strong> suas análises o<br />
modo português <strong>de</strong> colonização - ao qual Freyre chamou plasticida<strong>de</strong> social 13 . Para <strong>Pedro</strong><br />
<strong>Calmon</strong>, os portugueses foram melhores colonizadores que os ingleses e espanhóis porque<br />
facilitaram a “união <strong>de</strong> raças”, no que concordou Freyre, para qu<strong>em</strong> o português foi o<br />
colonizador europeu que melhor “confraternizou com as raças chamadas inferiores” 14 .<br />
<strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> e Gilberto Freyre concordaram também na harmonia experimentada<br />
pela socieda<strong>de</strong> brasileira, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua diversida<strong>de</strong> étnica. O povo brasileiro “quase<br />
homogêneo” <strong>de</strong> <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> protagonizava a harmonia social <strong>de</strong>clarada por Freyre, que<br />
assim como Robert Abbott, enxergava no Brasil uma d<strong>em</strong>ocracia racial:<br />
138<br />
[...] Mas sei que ela [a Bahia] é também a mãe da própria d<strong>em</strong>ocracia brasileira.<br />
D<strong>em</strong>ocracia que não é a que repousa simplesmente sobre o sufrágio universal, como a<br />
Suíça, ou sobre a forma republicana <strong>de</strong> governo, como a dos Estados Unidos, mas a <strong>de</strong><br />
culturas que se interpenetram, a <strong>de</strong> antagonismos sociais que se harmonizam, a <strong>de</strong><br />
raças que se aproximam uma das outras, com preconceitos cada vez menores a<br />
separá-las. 15<br />
Na prática, estes antagonismos sociais não se harmonizavam. O <strong>de</strong>bate que<br />
envolveu a questão da imigração dos negros norte-americanos, por ex<strong>em</strong>plo, durou mais <strong>de</strong><br />
uma década, envolvendo até um projeto <strong>de</strong> lei que pretendia impedir a entrada <strong>de</strong> mais<br />
negros no país “homogêneo” 16 . Mas a partir daqueles anos 1930 as reivindicações dos<br />
negros ganhariam força, e as interpretações <strong>de</strong> Gilberto Freyre impulsionaram novas<br />
12<br />
Id. Ibid,.p.404.<br />
13<br />
Id. Ibid, p.265.<br />
14<br />
Id. Ibid, p.265.<br />
15<br />
FREYRE, Gilberto. Bahia e Baianos. FONSECA, Edson Nery da (org). Salvador: Fundação das<br />
Artes/Egba, 1990. p.29. [grifos meus]<br />
16<br />
Este <strong>de</strong>bate se refletiu no texto da Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1934, on<strong>de</strong> se estabeleceu uma política <strong>de</strong> cotas<br />
para a imigração no país. “Art. 121. § 6º - A entrada <strong>de</strong> imigrantes no território nacional sofrerá as restrições<br />
necessárias à garantia da integração étnica e capacida<strong>de</strong> física e civil do imigrante, não po<strong>de</strong>ndo, porém, a<br />
corrente imigratória <strong>de</strong> cada país exce<strong>de</strong>r, anualmente, o limite <strong>de</strong> dois por cento sobre o número total dos<br />
respectivos nacionais fixados no Brasil durante os últimos cinqüenta anos.”