Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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econhecida por muitos intelectuais 91 , principalmente após os estudos pioneiros <strong>de</strong> Nina<br />
Rodrigues, que apontaram sua interferência na língua nacional, nas festas populares, na<br />
religião e outras manifestações 92 . Falar <strong>em</strong> <strong>de</strong>sconhecimento do historiador sobre a<br />
importância da participação do negro na constituição da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional é uma<br />
alternativa, <strong>em</strong> verda<strong>de</strong>, impossível <strong>de</strong> obter sustentação. Isto resta claro <strong>em</strong> alguns <strong>de</strong> seus<br />
outros textos, <strong>em</strong> especial na “História da Bahia”, on<strong>de</strong> faz alusão à presença africana “nos<br />
costumes, na vida doméstica, na mentalida<strong>de</strong> colonial” 93 . Mesmo na HCB pod<strong>em</strong>os<br />
observar certos sinais. Ao citar a obra <strong>de</strong> Ambrósio Fernan<strong>de</strong>s Brandão - “Diálogo das<br />
Gran<strong>de</strong>zas [do Brasil]” – por ex<strong>em</strong>plo, o historiador atesta sua ciência sobre a amplitu<strong>de</strong> da<br />
participação africana no processo histórico nacional, pois aquele não <strong>de</strong>ixa dúvidas:<br />
(...) porquanto neste Brasil se há criado um novo Guiné com a gran<strong>de</strong> multidão <strong>de</strong><br />
escravos vindos <strong>de</strong>la que nele se acham; <strong>em</strong> tanto que, <strong>em</strong> algumas capitanias, há mais<br />
<strong>de</strong>les que dos naturais da terra, e todos os homens que nele viv<strong>em</strong> t<strong>em</strong> metida quase toda<br />
sua fazenda <strong>em</strong> s<strong>em</strong>elhante mercadoria. 94 [grifos meus]<br />
<strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> vale-se <strong>de</strong>ste epíteto, “novo Guiné”, para <strong>de</strong>signar o Brasil. Ora, se<br />
uma terra vale este nome <strong>de</strong> evocação africana para ressaltar a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> indivíduos<br />
negros que nela habita, não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>senvolver-se alheia a eles. Se um novo tipo humano,<br />
uma “raça brasileira”, toma forma <strong>em</strong> “novo Guiné”, não po<strong>de</strong>ria permanecer ilesa à<br />
influência <strong>de</strong> boa parte do seu próprio contingente populacional. Aceitar o contrário seria<br />
91 Ver: QUERINO, Manoel. A Bahia <strong>de</strong> Outrora. Salvador: Imprensa Oficial, 1946. Coleção <strong>de</strong> Estudos<br />
Brasileiros. Série 1ª. – Autores nacionais. Vol.3.; Id., A Raça Africana e seus Sostumes na Bahia –<br />
M<strong>em</strong>ória apresentada. 5 o . Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Geografia. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1917; Id.,<br />
Os homens <strong>de</strong> cor preta na história. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Vol. 48.<br />
Salvador, 1923; RAMOS, Arthur. O Negro Brasileiro. 5 a .ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graphia, 2001; CARNEIRO,<br />
Édison. Religiões Negras e Negros bantos – Notas <strong>de</strong> etnografia religiosa e <strong>de</strong> folclores. 3 a . ed. Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro: Civilização Brasileira, 1991; Id., Cartas <strong>de</strong> Édison Carneiro a Artur Ramos: <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong><br />
1936 a 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1938. OLIVEIRA, Waldir Freitas; LIMA Vivaldo da Costa (orgs.). São Paulo:<br />
Corrupio, 1987; FREYRE, Gilberto. Bahia e Baianos. FONSECA, Edson Nery da (org). Salvador: Fundação<br />
das Artes/Egba, 1990.<br />
92 Cf.: RODRIGUES, Nina. Os Africanos no Brasil. 6 a . ed., São Paulo: Ed. Nacional; Brasília: Ed. UnB,<br />
1982.<br />
93 CALMON, <strong>Pedro</strong>. História da Bahia. Resumo didático. 2 a . ed. São Paulo: Cia. Melhoramentos, ca. 1929.<br />
p. 28-9.<br />
94 BRANDÃO, Ambrósio Fernan<strong>de</strong>s. Diálogo das Gran<strong>de</strong>zas do Brasil, 1618. Texto organizado por<br />
Capistrano <strong>de</strong> Abreu. Salvador : Progresso, 1956. Disponível <strong>em</strong> http://www.bibvirt.futuro.usp.br/.<br />
Acesso: 01 out 2005.<br />
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