Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
“função civilizadora” 8 . Esta abordag<strong>em</strong> seria impossível a <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>, para qu<strong>em</strong> os<br />
negros eram vistos, s<strong>em</strong>pre com o olhar “bovino”, como indivíduos que, antes, ameaçavam<br />
a civilização. Em “Casa Gran<strong>de</strong> e Senzala”, Freyre fez questão <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar o íntimo<br />
convívio do negro com as famílias aristocráticas, principalmente no ambiente do engenho,<br />
e a dinâmica cultural vivenciada pelos grupos, elevando o caráter da cultura africana, que<br />
teria contagiado e enriquecido a cultura brasileira 9 - mesmo através <strong>de</strong> uma interpretação<br />
on<strong>de</strong> a cultura branca se sobrepõe ao conjunto 10 .<br />
As mestiçagens propostas por Freyre e <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>, no entanto, possu<strong>em</strong> pontos<br />
<strong>em</strong> comum, principalmente o <strong>de</strong>staque para uma interpretação culturalista. Em ambos, a<br />
gênese da mestiçag<strong>em</strong> é evi<strong>de</strong>nciada no campo da cultura, porém guardando uma<br />
importante distinção. Enquanto <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> oferece a interpretação <strong>de</strong> uma mestiçag<strong>em</strong><br />
cultural para escamotear a raça atrás <strong>de</strong> uma idéia <strong>de</strong> cultura, misturando conceitos,<br />
Gilberto Freyre propôs uma explícita separação 11 , diferenciando características raciais <strong>de</strong><br />
características culturais. A partir <strong>de</strong>sta pr<strong>em</strong>issa, Freyre alcança resultados distantes das<br />
hierarquias raciais e sociais que <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> encampa ao estabelecer o hom<strong>em</strong> branco<br />
como um el<strong>em</strong>ento naturalmente alocado nos extratos superiores da organização social.<br />
Para Freyre o africano não era um ser humano naturalmente inferior, e qualquer<br />
<strong>de</strong>generação observada nele ou na sua cultura não po<strong>de</strong>riam ser atribuídas à inferiorida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> raça, como queriam os “sociólogos arianistas”, mas sim à sua condição escrava.<br />
8 FREYRE, Gilberto. Casa Gran<strong>de</strong> e Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia<br />
patriarcal. 49 a . ed. São Paulo: Global. 2004. p.390.<br />
9 FREYRE, Gilberto. Casa Gran<strong>de</strong> e Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia<br />
patriarcal. 49 a . ed. São Paulo: Global. 2004. p.392.<br />
10 Ver: SKIDMORE, Thomas E., “Racial i<strong>de</strong>as and social policy in Brazil, 1870-1940”. In: GRAHAM,<br />
Richard (ed.). The I<strong>de</strong>a of Race in Latin America, 1870-1940, Austin: University of Texas Press, 1990,<br />
p.7-36.<br />
11 Id. Ibid, p.32.<br />
137