Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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3.3.1. Malês<br />
A historiografia <strong>em</strong> muito contribuiu para a construção da imag<strong>em</strong> dos africanos<br />
islamizados como superiores aos d<strong>em</strong>ais cativos. A ocorrência <strong>de</strong> escravos que dominavam<br />
um sist<strong>em</strong>a alfabético e dialogavam com uma religião monoteísta, consi<strong>de</strong>rada mais<br />
sofisticada que os mo<strong>de</strong>los animistas tradicionais africanos, produziram representações <strong>de</strong><br />
distinção entre os malês. Nina Rodrigues <strong>de</strong>clarou a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> articulação <strong>de</strong>sses<br />
africanos <strong>em</strong> razão <strong>de</strong> sua unida<strong>de</strong> religiosa 39 . O signo <strong>de</strong> sua inteligência é referendado<br />
por Donald Pierson, que os <strong>de</strong>fine como “astutos e inteligentes, eram às vezes superiores<br />
aos seus patrões <strong>em</strong> equipamento cultural” 40 . Valeu-lhes, assim, o epíteto utilizado por<br />
Gilberto Freyre, que os nomeou <strong>de</strong> “aristocratas das senzalas” 41 . Essas elaborações acerca<br />
dos malês, <strong>de</strong>senvolvidas a partir <strong>de</strong> finais do século XIX, são incorporadas à narrativa <strong>de</strong><br />
<strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> que os <strong>de</strong>fine como “os mais inteligentes <strong>de</strong>ntre os escravos importados”.<br />
Não podiam, segundo ele, ser confundidos com nenhum que fosse <strong>de</strong> outra nação 42 .<br />
Ao que parece, ao menos os africanos malês são dignos <strong>de</strong> algum elogio por parte<br />
<strong>de</strong> homens brancos e letrados das primeiras décadas do século XX. Afinal, ainda que os<br />
malês não reproduziss<strong>em</strong> integralmente os ensinamentos do Islam - vez que suas práticas<br />
sofreram também influência <strong>de</strong> religiões africanas – a familiarida<strong>de</strong> com códigos <strong>de</strong> uma<br />
cultura consi<strong>de</strong>rada civilizada os colocava acima dos outros escravos, diante do olhar das<br />
elites intelectualizadas. Mas, como já citado anteriormente, o romance comungava com<br />
uma opinião <strong>de</strong>sfavorável <strong>em</strong> relação ao negro, e os elogios <strong>de</strong> <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> aos africanos<br />
islamizados ganham outros tons no <strong>de</strong>correr da narrativa, valendo-se <strong>de</strong> outro estigma que<br />
39 a<br />
RODRIGUES, Nina. Os Africanos no Brasil. 6 . ed., São Paulo: Ed. Nacional; Brasília: Ed. UnB, 1982.<br />
p.4.<br />
40<br />
PIERSON, Donald. Brancos e Pretos na Bahia: estudo <strong>de</strong> contacto racial. 2ª. ed. São Paulo: Cia. Editora<br />
Nacional, 1971. p.120-1.<br />
41 a<br />
FREYRE, Gilberto. Casa gran<strong>de</strong> e Senzala. 39 . Ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Record, 2000. p.367.<br />
42 Malês, p.40.<br />
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