15.05.2013 Views

Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

nota para integrar o processo <strong>de</strong> formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional. Eram eles os índios do<br />

litoral, “posto[s] <strong>em</strong> entendimento com os brancos, e por estes influenciados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as<br />

primeiras viagens”, explicou o autor. Segundo ele “o tupi era o mais assimilável e<br />

inteligente”. Em interessante associação entre a capacida<strong>de</strong> cognitiva e a aptidão à<br />

civilização, o autor une essas características <strong>em</strong> relação inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Talvez querendo<br />

afirmar que a inteligência dos tupis manifestava-se através <strong>de</strong> sua licenciosa<br />

“assimilabilida<strong>de</strong>”, ou que através da “assimilação” adquiriam maior inteligência... Mas,<br />

não <strong>de</strong>talhando o historiador a questão, percebe-se a pouca importância que lha dá. Em<br />

nada discorre <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> sobre as influências da cultura européia no cotidiano indígena,<br />

<strong>de</strong>ixando claro que a miscigenação se operava <strong>em</strong> uma direção muito <strong>de</strong>terminada. Na sua<br />

análise foi o índio qu<strong>em</strong> influenciou o português, e não o contrário. Ao confirmar sua<br />

interpretação, sentencia o historiador: “ao invés <strong>de</strong> «europeizar-se» o selvag<strong>em</strong>, foi o<br />

branco que se «indianizou»” 81 .<br />

Ao <strong>de</strong>stacar a ocorrência <strong>de</strong> um inverso, <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> sinaliza que conhecia a<br />

expectativa comum <strong>em</strong> seu t<strong>em</strong>po: a “assimilação” do índio pela cultura européia; a<br />

europeização do selvag<strong>em</strong>, e não a indianização do europeu! Invertendo a lógica esperada<br />

para um encontro <strong>de</strong> culturas <strong>em</strong> diferentes estágios <strong>de</strong> civilização, <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> oferece<br />

a seus leitores um <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> inteligência. Afinal, havendo os europeus se indianizado, o<br />

mencionado “sacrifício da raça” indígena per<strong>de</strong>ria a razão <strong>de</strong> ser.<br />

Na construção do seu pensamento o historiador visualiza a confirmação <strong>de</strong> sua<br />

hipótese através da figura do sertanejo - hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po, no registro do que julga<br />

ser<strong>em</strong> permanências culturais indígenas no caráter brasileiro:<br />

81 HCB, p.30 [grifos meus]<br />

Os sertanejos ainda agora andam como os índios, isto é, uns atrás dos outros, “por um<br />

carreiro como formigas”. Fumam o mesmo «pito». O seu alimento para a jornada é a<br />

mesma “farinha <strong>de</strong> guerra”. A canoa, com que passam os rios, é a mesma canoa tupica, <strong>de</strong><br />

uso universal no Brasil. O feiticeiro exerce a mesma influencia e a terapêutica sertaneja é<br />

83

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!