Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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A formação da “gente” brasileira, ou seja, sua constituição racial, era apontada<br />
como uma questão nacional, discutida <strong>de</strong> maneira inflamada. O <strong>de</strong>bate envolvia o<br />
reconhecimento do que seria uma “raça brasileira”, e como ela <strong>de</strong>veria ser conduzida a<br />
partir <strong>de</strong> então para garantir o lugar do Brasil <strong>de</strong>ntre os países <strong>de</strong>senvolvidos 6 . É <strong>em</strong> busca<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>finir o caráter do brasileiro que <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> se <strong>de</strong>dica ao estudo da construção da<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional, procurando sua orig<strong>em</strong>. Acaba por apresentá-la como fruto da “união<br />
<strong>de</strong> raças”- do branco, do negro e do índio, integrados no processo <strong>de</strong> gênese nacional, cada<br />
qual a seu modo e proporção, <strong>de</strong>terminando o que chamou <strong>de</strong> “maciço brasileiro” 7 .<br />
Mesmo compreen<strong>de</strong>ndo o brasileiro como resultado da miscigenação <strong>de</strong> três raças,<br />
<strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> não admitiu que a mistura fosse uniforme. As partes <strong>de</strong> sua constituição são<br />
<strong>de</strong>siguais, e a mistura é imperfeita. Na sua observação, o Brasil mestiço seria “harmonioso<br />
na aparente confusão étnica, afinal equilibrado e – como ver<strong>em</strong>os – quase homogêneo” 8 .<br />
É no que ficou por ser - mas não era -, no “quase”, que resi<strong>de</strong> a chave para a compreensão<br />
do objeto <strong>de</strong>sta pesquisa. Este “quase”, vacilante, expõe as contradições e os conflitos que<br />
envolviam os discursos racialistas da época, <strong>em</strong>ergentes da diversida<strong>de</strong> cotidiana, on<strong>de</strong><br />
diferentes grupos étnico-raciais exerciam pressões sociais. Os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> escravos, os<br />
índios marginalizados, os imigrantes europeus e asiáticos, todos lutavam por alguma<br />
integração na socieda<strong>de</strong> brasileira 9 - ameaçando a ord<strong>em</strong> que as elites dirigentes buscavam<br />
estabelecer, tendo como mo<strong>de</strong>lo i<strong>de</strong>al as socieda<strong>de</strong>s brancas e industrializadas dos países<br />
t<strong>em</strong>perados.<br />
6<br />
Ver: LAVALLE, Adrián Gurza. Vida Pública e I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> Nacional. Leituras Brasileiras. S~]ao Paulo:<br />
Globo, 2004.<br />
7<br />
CALMON, <strong>Pedro</strong>. História da Civilização Brasileira. São Paulo: Cia Editora Nacional, 19<strong>33</strong>. Coleção<br />
Biblioteca Pedagógica Brasileira, Série V, Brasiliana, Vol. XIV. p.34.<br />
8<br />
Loc. Cit. p. 31. [grifos meus]<br />
9<br />
Ver: LESSER, Jeffrey. A Negociação da I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> Nacional. Imigrantes, Minorias e a Luta pela<br />
Etnicida<strong>de</strong> no Brasil. São Paulo: Unesp. 2001.<br />
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