Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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também o hom<strong>em</strong> português que dará partida à formação do brasileiro - inicialmente<br />
misturando-se com o índio, e alguns anos <strong>de</strong>pois também com os africanos.<br />
Observa-se aqui uma mudança <strong>de</strong> pensamento do autor, influenciado pelos<br />
discursos que buscaram elevar o caráter do mestiço. Se <strong>em</strong> <strong>1922</strong> <strong>de</strong>fendia a consistência <strong>de</strong><br />
uma aristocracia branca, formada por “el<strong>em</strong>entos puros”, que não participaram do processo<br />
<strong>de</strong> miscigenação, e estavam escalados no topo da socieda<strong>de</strong> 75 , agora <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> não<br />
mais estabelece essa distinção. Assume um caráter geral para a operação da mestiçag<strong>em</strong>,<br />
que <strong>em</strong> uma primeira etapa se teria dado somente entre o europeu e o indígena - o dito<br />
selvag<strong>em</strong> habitante original do solo conquistado.<br />
Na adaptação à terra tropical, o português teria aprendido com o índio várias<br />
estratégias <strong>de</strong> acomodação ao novo ambiente, para ele totalmente <strong>de</strong>sconhecido. Como<br />
r<strong>em</strong>édio para sua sobrevivência, assinala o autor: “adaptou-se, imitando o gentio” 76 .<br />
Valendo-se das informações <strong>de</strong> Frei Vicente do Salvador 77 , <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> <strong>de</strong>staca aspectos<br />
da cultura indígena que teriam influência <strong>de</strong>cisiva na vida dos colonizadores:<br />
Fortificou-se como o índio, nas cercas <strong>de</strong> pau a pique. Substituiu o trigo pela mandioca.<br />
Apren<strong>de</strong>u a moquear a carne, para conservá-la. Não quis outra cama além da re<strong>de</strong>, que era<br />
para os tupis o único traste. A re<strong>de</strong> (bangüê) é também a sua mortalha. A re<strong>de</strong> (serpentina) é<br />
também o seu veículo. No trabalho do campo imitou o índio, <strong>de</strong>rrubando e queimando, para<br />
a plantação, e cobiçando s<strong>em</strong>pre terras novas, numa ocupação progressiva do solo. [HCB,<br />
p.28].<br />
Na análise <strong>de</strong> <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> o português, distante da terra lusa por um oceano<br />
inteiro, via-se numa paisag<strong>em</strong> completamente nova, que o obrigava a engendrar na<br />
América “uma vida <strong>em</strong> tudo diversa da que tivera até então”. Tudo lhe era novida<strong>de</strong>, “o<br />
meio, o clima, a gente que encontrou”, citou o autor. Esses el<strong>em</strong>entos, unidos à<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação, teriam aproximado os portugueses dos índios. Na interpretação<br />
75 CALMON, <strong>Pedro</strong>. “A América não po<strong>de</strong> viver <strong>de</strong> sua própria história. A influência francesa na Conjuração<br />
Mineira”. In: Anais do Congresso Internacional <strong>de</strong> História da América. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Revista do<br />
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1925, v. 5, p. 505-525.<br />
76 HCB, p.29<br />
77 SALVADOR, Frei Vicente do. História do Brasil. 1627.<br />
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