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Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

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numérica, podia contar a seu benefício com a estupi<strong>de</strong>z <strong>de</strong>sses africanos para salvar a<br />

própria pele – uma vez que, com sua incrível bonda<strong>de</strong> e nobreza <strong>de</strong> herói <strong>de</strong> romance, não<br />

pretendia matar a todos eles:<br />

122<br />

[...] Pararam – uns e outros – olhando-se irresolutos, Ferraz <strong>de</strong> pistola aperrada, os nagôs <strong>de</strong><br />

espadas ameaçando. Mediram-se. O promotor contou-os. Eram quinze, Fechavam a rua.<br />

Não valeria <strong>de</strong>spejar sobre eles as pistolas. Não queria matar, queria passar... Uma idéia,<br />

repentina, sorriu-lhe. Mergulhou no bolso interno a mão esquerda, e retirou-a cheia <strong>de</strong><br />

moedas. Eram libras esterlinas. Chocalhou, com a mão fechada, imitando o “agogô” dos<br />

“candomblés” – e, num arr<strong>em</strong>esso súbito, lançou as moedas aos pés dos bêbedos. Foi<br />

uma chuva <strong>de</strong> ouro. Atiraram-se a elas, procurando apanhá-las na escuridão e no pó.<br />

Precipitaram-se, uns sobre os outros, grunhindo, esmurrando, ferindo. Caíram a um<br />

t<strong>em</strong>po, rebolaram-se no chão, envolvendo-se <strong>em</strong> poeira, as mãos enclavinhadas esfregaram<br />

a terra, alongaram como serpentes contorcidas, braços luzidios, por sob a massa <strong>de</strong><br />

corpos amontoados, num <strong>de</strong>sesperado e surdo combate – e Ferraz, <strong>de</strong> um salto, transpôs a<br />

distancia que o separava do obstáculo. [grifos meus - Malês, p.109-10]<br />

No momento <strong>de</strong> importante combate, os nagôs <strong>de</strong> <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> esquec<strong>em</strong> a peleja,<br />

o inimigo, e lutam entre si por moedas, jogando-se no chão <strong>em</strong>poeirado, “grunhindo” como<br />

animais selvagens. Esta imag<strong>em</strong> criada pelo autor, assim como muitas outras do romance,<br />

tenta estabelecer um padrão <strong>de</strong> comportamento – on<strong>de</strong> os negros são s<strong>em</strong>pre<br />

inferiorizados, e alocados num padrão inferior do que seria uma escala <strong>de</strong> civilida<strong>de</strong>.<br />

S<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> contraposição com os brancos fidalgos da aristocracia local, os escravos levam<br />

a pior. Já seus senhores, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes dos portugueses que se “indianizaram”, na forma<br />

<strong>de</strong>fendida por <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> na História da Civilização Brasileira, estão s<strong>em</strong>pre no<br />

proveito. Freqüentam o topo da organização social e racial, e levam vantag<strong>em</strong> – como<br />

provou Ferraz que, contando com sua inteligência superior livrou-se sozinho <strong>de</strong> um feroz<br />

ataque <strong>de</strong> não menos que quinze homens negros e furiosos. A medida da civilização, no<br />

entanto, correspon<strong>de</strong> à condição racial do indivíduo. Neste raciocínio, os brancos são<br />

equiparados aos civilizados, e os negros aproximados à selvageria – quase mesmo, muitas<br />

vezes, <strong>de</strong>spindo-se da condição humana. É por isso que para <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> seus olhos são<br />

s<strong>em</strong>pre “bovinos”.

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