Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
crer que os negros exercitaram a maioria <strong>de</strong> suas práticas culturais <strong>em</strong> círculos muito<br />
fechados e secretos, mantendo-se à marg<strong>em</strong> do restante da população. É possível até que<br />
<strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> tivesse esta percepção já que, <strong>em</strong> seu t<strong>em</strong>po, a cultura negra se configurava<br />
<strong>em</strong> reduto <strong>de</strong> autonomia aos olhos das elites letradas, que por sua vez intentavam esforços<br />
no combate às então chamadas “tristes r<strong>em</strong>iniscências do africanismo” 95 . Em todo caso, o<br />
quantitativo <strong>de</strong> escravos africanos não significou ao autor uma influência qualitativa. Vale<br />
também observar que a localização t<strong>em</strong>poral atribuída pelo autor para a formação <strong>de</strong> uma<br />
“fisionomia <strong>de</strong>finitiva” do brasileiro, <strong>em</strong> 1654, <strong>de</strong>spreza a presença da massa <strong>de</strong> escravos<br />
africanos trazida pelo tráfico até o século XIX. Por mais <strong>de</strong> dois séculos ainda estariam os<br />
negros a imigrar forçadamente para o Brasil, somando-se à população, e contribuindo para<br />
a caracterização cultural da nação.<br />
Em HCB, além da pouca contribuição à formação do caráter brasileiro, o africano<br />
aparece na história <strong>de</strong> civilização nacional contada por <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> <strong>de</strong> forma<br />
fragmentada, dispersa, ora ao lado dos portugueses e índios na <strong>de</strong>fesa da terra que<br />
“adotou”, ora na labuta do eito, ora no trabalho das minas, ou envolvido <strong>em</strong> alguma<br />
rebelião malfadada, previamente con<strong>de</strong>nada pela heterogeneida<strong>de</strong> étnica. Era a opinião do<br />
historiador, que atesta com flagrante alívio:<br />
A diversida<strong>de</strong> das línguas, (cujo estudo a tão pouco interessou) e das raças, entre os pretos<br />
importados, salvou o Brasil <strong>de</strong> uma conquista africana, que por vezes o ameaçou, apesar<br />
das <strong>de</strong>savenças irr<strong>em</strong>ediáveis e repugnâncias que separavam aqui os escravos das várias<br />
procedências, que tinham outros cultos e falavam outros dialetos. Assim nas Minas Gerais:<br />
uma gran<strong>de</strong> rebelião <strong>de</strong> escravos só fracassou porque angolas e minas queriam reis<br />
diferentes (…). Na Bahia, todos os levantes <strong>de</strong> negros tiveram a mesma causa <strong>de</strong> pronto<br />
malogro [HCB, p.27].<br />
<strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>, que achou simpático <strong>de</strong>clarar a “indianização” do europeu, não<br />
incorreu no mesmo entusiasmo ao tratar dos africanos. Na sua história engajada aos<br />
95 A TARDE, Salvador 20 ago 1928. Apud RAMOS, Arthur. In: O Negro Brasileiro. Recife, FUNDAJ/ Ed.<br />
Massangana, 1988, p. 106.<br />
89