Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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Durante os anos 1930, o projeto <strong>de</strong> nação i<strong>de</strong>alizado pelo grupo <strong>de</strong> Getúlio Vargas<br />
pretendia oferecer maior espaço <strong>de</strong> inserção ao negro, sob a égi<strong>de</strong> <strong>de</strong> um Estado<br />
protecionista, que <strong>de</strong>veria “dignificar” a presença do negro, como cita a antropóloga Olívia<br />
Maria Gomes da Cunha:<br />
127<br />
A inclusão foi incorporada nesse discurso através da visão <strong>de</strong> que os “negros” e “mulatos”<br />
eram parte da Raça Brasileira, e que caberia também ao Estado dignificar (a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong><br />
uma política vista como, a um só t<strong>em</strong>po, liberal e “arianizante”) sua presença e protegê-los<br />
da miséria, do alcoolismo, da prostituição, do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, do analfabetismo e, portanto,<br />
dos perigos internos e poluidores. A exclusão, por sua vez, era <strong>de</strong>terminada pela<br />
constatação <strong>de</strong> que os sinais <strong>de</strong>sse percurso pareciam <strong>de</strong>scontrolados; os menores males<br />
passíveis <strong>de</strong> cura pela mão paternalista do Estado eram causados pelo “preconceito <strong>de</strong><br />
cor”. 97<br />
Mesmo não estando diretamente vinculado às legiões correligionárias <strong>de</strong> Vargas no<br />
início dos anos 1930, <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> e seus amigos das oligarquias baianas comungavam<br />
do mesmo i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> que os negros <strong>de</strong>veriam se submeter a padrões <strong>de</strong> comportamento,<br />
consi<strong>de</strong>rados i<strong>de</strong>ais, para ser<strong>em</strong> inseridos socialmente. Os obstáculos apresentados para a<br />
esta inclusão muitas vezes eram atribuídos aos próprios negros, e sua suposta dificulda<strong>de</strong><br />
<strong>em</strong> dialogar com os ditames da civilização. Para essas elites o continuísmo do Candomblé,<br />
e até mesmo o seu crescimento durante a Primeira República 98 , atestava a ignorância dos<br />
negros, “cuja educação não lhes permite reagir á influencia da seita perniciosa e proibida<br />
pela polícia <strong>de</strong> costumes” 99 - acentuou o A TARDE. A imposta submissão muitas vezes<br />
ocorria através da violência – a ex<strong>em</strong>plo da ação da polícia <strong>de</strong> costumes, no combate ao<br />
Candomblé <strong>em</strong> suas muitas “varejas”. Este projeto, além <strong>de</strong> não cogitar nenhum respeito às<br />
tradições afro-brasileiras, não cuidava <strong>de</strong> inserir os negros na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma maneira<br />
97<br />
CUNHA, Olivia. Maria Gomes da. “19<strong>33</strong>, O Ano Em Que Fiz<strong>em</strong>os Contato”. In: Revista USP, São Paulo,<br />
v. 28, 1995/6. p. 145.<br />
98<br />
Cf.:: LIMA, Vivaldo da Costa. O Candomblé da Bahia na década <strong>de</strong> trinta. In: OLIVEIRA, Waldir Freitas;<br />
LIMA, Vivaldo da C. L. (orgs.); CARNEIRO, Édison. Cartas <strong>de</strong> Édison Carneiro a Artur Ramos: <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong><br />
Janeiro <strong>de</strong> 1936 a 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1938. São Paulo: Corrupio, 1987. p.40.<br />
99<br />
A TARDE. Salvador, 20 <strong>de</strong> ago. 1928. Apud LÜHNING, Ângela. “Acabe com este santo, Pedrito v<strong>em</strong> aí...<br />
Mito e realida<strong>de</strong> da perseguição policial ao candomblé baiano entre 1920-1945”. REVISTA USP, n.28,<br />
1995/6.