Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
espanto, o espavorido susto <strong>de</strong> taciturna ave da noite solta <strong>de</strong> repente ao sol...” 107 . Mas<br />
havia um sentimento <strong>de</strong> débito, e por isso concordavam esses homens <strong>em</strong> se erguer a<br />
estátua.<br />
Cotcking perseguiu seu intento. A GAZETA DE NOTÍCIAS julgava o médico um<br />
“sonhador” - mesmo concordando que “a ninguém <strong>de</strong>ve mais o Brasil do que ao negro,<br />
pois [foram] 389 anos <strong>de</strong> trabalhos consecutivos e imensos”. Afirmava Cotcking <strong>em</strong> seu<br />
discurso <strong>de</strong> comiseração que “o negro foi a coluna mestra da nossa evolução <strong>de</strong> povo”,<br />
referindo-se à obra dos escravos na lavoura, na mineração, no extrativismo, e também na<br />
configuração “psíquico e moral” da população submetida a um “cal<strong>de</strong>amento que ainda se<br />
não concluiu”, e que atingia os brasileiros <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o berço, ainda inconscientes, quando se<br />
nutriam com “o leite sagrado das nossas mães pretas” 108 .<br />
Cotcking trazia através da gratidão o questionamento da dívida moral: “uma vez no<br />
Brasil, que reservávamos ao negro?”. E <strong>de</strong>sfilava uma lista <strong>de</strong> penúrias e sacrifícios <strong>em</strong><br />
prol do <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro. “Há qu<strong>em</strong> possa esquecer a figura <strong>de</strong> Henrique Dias, à<br />
frente dos seus falangiários na repulsa ao batavo?”. Questionava o doutor, sedimentando<br />
uma idéia <strong>de</strong> débito da nação brasileira diante dos escravos africanos e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes:<br />
“somos <strong>de</strong>vedores ao «homo afer» [africano] <strong>de</strong> uma dívida enorme que só po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os<br />
resgatar até certo ponto elevando-lhe na praça pública um monumento grandioso.” A<br />
estátua era a solução apresentada por Cotcking para resolver ao menos gran<strong>de</strong> parte da<br />
questão 109 .<br />
O monumento público saldaria a “dívida enorme” ao simbolizar a imensa gratidão<br />
da nação brasileira para a contribuição do negro na formação <strong>de</strong> nossa nacionalida<strong>de</strong>. Esta<br />
também foi a motivação <strong>de</strong> Cândido Campos, poucos anos <strong>de</strong>pois – o monumento saldaria<br />
107 CALMON, <strong>Pedro</strong>. “Mãe Preta”. In: GAZETA DE NOTÍCIAS (RJ), 13 abr 1926.<br />
108 GAZETA DE NOTÍCIAS (RJ), 5 out 1923.<br />
109 Loc. cit.<br />
53