Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

sua mão-de-obra fora selecionada justamente pelo pretexto da “aclimação”. Todos esses
falsos argumentos disfarçavam algo não muito escondido, que era o que realmente contava
no jogo da imigração: a seleção étnica. Logo no início da República a política de imigração
estava bastante definida, dificultando a entrada nos portos brasileiros de nativos africanos e
asiáticos, considerados representantes de raças inferiores 131 . Desde fins do século XIX que
pensadores como Nina Rodrigues apontavam a presença do africano e suas heranças na
população brasileira como um fator de desvantagem na construção de um país avançado.
Na opinião da filósofa Gislene Aparecida dos Santos essas reflexões ganham corpo após o
fim da escravidão, quando o ex-escravo adquire estatuto de cidadão. Livres dos grilhões, os
africanos e seus descendentes mestiços passaram a sofrer uma outra tentativa de subjugo,
que pretendia impedir sua ascensão na sociedade liberal - que acenava direitos iguais para
todos. Dessa forma, as ideologias raciais do século XIX, que pretendiam “fundamentar a
inferioridade inata da raça negra, inapta à civilização e a qualquer forma de
desenvolvimento” 132 , avançam para o século XX, e refletem-se em vários espaços da
sociedade brasileira – a exemplo do tratamento dispensado aos descendentes de escravos, e
as características da política de imigração.
Em seus primeiros anos de vida intelectual adulta Pedro Calmon analisou a
construção do caráter nacional influenciado pelas idéias de seu tempo, engajado com o
projeto de nação defendido pela elite intelectual branca – grupo onde buscava inserção
131 Ver: DECRETO 528, de 28/06/1890; RAMOS, Jair de Souza. O Ponto da Mistura: Raça, Imigração e
Nação em um Debate da Década de 20. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social. Museu Nacional,
1994; ALBUQUERQUE, Wlamyra Ribeiro de. A Exaltação das Diferenças: racialização, cultura e
cidadania negra ( Bahia, 1880-1900). Tese de Doutorado em História, UNICAMP, 2004.
132 SANTOS, Gislene Aparecida. A invenção do “ser negro” : um percurso das idéias que naturalizaram a
inferioridade dos negros. São Paulo: Educ/Fapesp; Rio de Janeiro: Pallas, 2002. p.130.
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