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Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

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eafirmar a sua integração ao clã. Era o seu contínuo esforço para mitigar a pecha <strong>de</strong><br />

parente pobre. Para melhor servir à família, assume mais uma vez a tarefa <strong>de</strong> perpetuar o<br />

seu sobrenome, inserindo-o na novela, por entre figuras da alta socieda<strong>de</strong> da “Bahia<br />

romântica dos bailados aristocráticos”, como mencionou Chiacchio – “a Bahia dos<br />

filósofos e poetas como o Dr. França e Moniz Barreto, dos quais há no livro tipificações<br />

magníficas”. Vários são os momentos do romance <strong>em</strong> que surg<strong>em</strong> os antepassados das<br />

famílias <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r 19 , <strong>em</strong> situações bastante marcadas, que anteced<strong>em</strong> as principais ações<br />

dos africanos. Nessas ocasiões, dois bailes e uma missa, <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> esmera-se por tecer<br />

<strong>de</strong>talhes parnasianos dos modos dos homens e mulheres refinados da Bahia oitocentista.<br />

São penteados, vestidos, jóias, perfumes, bigo<strong>de</strong>s, criados <strong>em</strong> luvas, mármores e<br />

tapeçarias, s<strong>em</strong> o <strong>de</strong>scuido das louças e pratarias, que compõe o ambiente <strong>de</strong> luxo da vida<br />

rica, guiada pelo calendário dos bailes orquestrados.<br />

Este é o mundo civilizado que surge ameaçado pelos escravos que “mal<br />

linguajavam o idioma civilizado”, e <strong>de</strong>fendido com êxito pelos seus representantes<br />

aristocratas. É <strong>de</strong>sta forma que se justifica o t<strong>em</strong>a dito “negreiro” do romance. <strong>Pedro</strong><br />

<strong>Calmon</strong> não fugiu à tônica <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po ou <strong>de</strong> seu grupo social, mostrando-se veiculador<br />

do discurso <strong>de</strong>squalificador dos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> escravos e sua cultura. Malês não se<br />

tratou <strong>de</strong> uma iniciativa para dar voz à luta <strong>de</strong> africanos, mostrar a resistência escrava, ou<br />

enaltecer a cultura negra. Antes, enfatiza a <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong>sses personagens, enfrentados por<br />

fidalgos das famílias baianas e pelas autorida<strong>de</strong>s provinciais, bravos heróis pintados por<br />

<strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>. O autor se alistava ao lado <strong>de</strong>stes, do seu grupo <strong>de</strong> pertencimento, e no<br />

romance os <strong>de</strong>u vantag<strong>em</strong>. No seu t<strong>em</strong>po presente, as antigas famílias da aristocracia<br />

baiana enfrentavam uma nova ameaça, e também precisavam combater – o inimigo, <strong>em</strong><br />

19<strong>33</strong>, surgia com o fim da República Velha, e atendia pelo nome <strong>de</strong> Getúlio Vargas.<br />

19 Malês, p.13.<br />

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