Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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civilização no novo mundo, eis que o africano sequer consegue se expressar <strong>de</strong> forma<br />
articulada: ele gagueja – seja a reza, o canto ou a blasfêmia... Por vezes surge se<br />
comunicando através <strong>de</strong> sua “língua esfarrapada da Costa da Mina” 85 ou na “língua <strong>de</strong><br />
Angola” 86 . Ou, como <strong>em</strong> Alma <strong>de</strong> Preta, simplesmente balbuciando uma linguag<strong>em</strong><br />
“onomatopaica”. Sua aparência s<strong>em</strong>i<strong>de</strong>snuda, poucas roupas <strong>em</strong> trapos, e suas feridas<br />
expostas, ao condizer<strong>em</strong> com sua indulgente condição escrava também evi<strong>de</strong>nciam o grau<br />
<strong>de</strong> distância <strong>em</strong> que se encontra do sist<strong>em</strong>a cultural europeu, que predominou durante toda<br />
a colonização. Esta cultura européia, para <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> e a maioria dos homens letrados<br />
<strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po, significava o máximo grau da civilização.<br />
Distingue-se do quadro a menção a Henrique Dias, negro liberto que surge lutando<br />
<strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa da manutenção do po<strong>de</strong>r dos senhores <strong>de</strong> engenho <strong>de</strong> Pernambuco, sendo por<br />
isso mesmo reconhecido como herói da pátria vindoura. Os seus outros irmãos <strong>de</strong> cor,<br />
menos achegados aos seus senhores, travaram com os holan<strong>de</strong>ses relações que o autor<br />
chamou <strong>de</strong> torpes, capazes <strong>de</strong> transformar a essência do batavo, aproximando-os da<br />
selvageria, ao contato íntimo com as senzalas dominadas. Foi sob este mesmo argumento<br />
que a influência do negro e sua cultura foi durante muitos anos rechaçada, t<strong>em</strong>endo-se<br />
asselvajar toda a população brasileira e, conseqüent<strong>em</strong>ente, con<strong>de</strong>nar o futuro <strong>de</strong> nossa<br />
nacionalida<strong>de</strong>. Nesta linha <strong>de</strong> raciocínio foi repelida a iniciativa <strong>de</strong> Abbott <strong>em</strong> promover a<br />
imigração <strong>de</strong> negros norte-americanos para o Brasil, como <strong>de</strong>ixou claro Afrânio Peixoto,<br />
refletindo a visão das elites brancas intelectualizadas:<br />
[...] a América preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>baraçar-se <strong>de</strong> seu núcleo <strong>de</strong> 15 milhões <strong>de</strong> negros no Brasil...<br />
Quantos séculos serão precisos para <strong>de</strong>purar-se todo esse mascavo humano? Ter<strong>em</strong>os<br />
albumina bastante para refinar toda essa escória? Quanto t<strong>em</strong>po ainda para a re<strong>de</strong>nção <strong>de</strong><br />
Cam? Não bastou a Sibéria... Descobriram o Brasil!!!... [...] Deus nos acuda, se é<br />
brasileiro! 87 [grifos meus]<br />
85 CALMON, <strong>Pedro</strong>. “A Bahia <strong>de</strong> 1836”. In: GAZETA DE NOTÍCIAS (RJ), 08 jan 1926.<br />
86 Id., O Tesouro <strong>de</strong> Belquior: novela da prata. São Paulo, Cayeiras, Rio: Cia Melhoramentos <strong>de</strong> São Paulo,<br />
ca. 1928. p.10.<br />
87 GAZETA DE NOTÍCIAS (RJ), 28 <strong>de</strong>z 1923.<br />
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