Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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asileiro no século XVII, o tornando agente da construção <strong>de</strong> sua própria civilização<br />
mestiça.<br />
No início da década <strong>de</strong> 1930 os mestiços ainda carregavam muitos estigmas <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>squalificação. Des<strong>de</strong> o século XIX a verificação da mistura causou preocupação aos<br />
m<strong>em</strong>bros das elites brancas letradas que, baseados nas teorias científicas do período,<br />
t<strong>em</strong>iam um futuro sombrio para este país miscigenado. A preocupação traduzia-se<br />
principalmente na presença do negro, e nas suas possíveis influências negativas no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento nacional. A raça negra havia <strong>de</strong> “constituir s<strong>em</strong>pre um dos fatores da<br />
nossa inferiorida<strong>de</strong> como povo” 62 , vaticinava Nina Rodrigues, no século XIX. Nos anos<br />
1920, a permanência <strong>de</strong>sse pensamento justificava o já mencionado lamento <strong>de</strong> Oliveira<br />
Vianna: “s<strong>em</strong> dúvida teria sido infinitamente melhor que eles [africanos] não se tivess<strong>em</strong><br />
constituído um dos gran<strong>de</strong>s fatores da formação da nossa nacionalida<strong>de</strong>” 63 . A<br />
miscigenação era então algo para se lastimar – uma verda<strong>de</strong>ira “tragédia” como citou <strong>em</strong><br />
verso o poeta baiano, primo <strong>de</strong> Dona Romana, Pethion <strong>de</strong> Villar: “o trágico e solene<br />
encontro das três Raças/ Que forjaram <strong>de</strong> bronze os músculos do Brasil...” 64 .<br />
Para a filósofa Gislene Aparecida dos Santos, é a partir <strong>de</strong> 1888/1889 que o<br />
probl<strong>em</strong>a “o negro” entra na pauta das principais discussões entre as elites dirigentes. Com<br />
o fim do cativeiro, e o ingresso à vida civil na república d<strong>em</strong>ocrática, já s<strong>em</strong> a autorida<strong>de</strong><br />
senhorial e a correição da chibata, os negros acabariam abandonados à própria sorte,<br />
incapazes <strong>de</strong> se auto-administrar, conforme o pensamento conservador <strong>de</strong> muitos doutos da<br />
época 65 . Para Oliveira Vianna, esta situação seria a orig<strong>em</strong> da situação “abastardada” dos<br />
62 a<br />
RODRIGUES, Nina. Os Africanos no Brasil. 6 . ed., São Paulo: Ed. Nacional; Brasília: Ed. UnB, 1982.<br />
p.7.<br />
63<br />
GAZETA DE NOTÍCIAS (RJ). 29 <strong>de</strong>z 1923.<br />
64<br />
VILLAR, Pethion. “Oração à Ban<strong>de</strong>ira”. Bahia, 07 <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1923. In: REVISTA DO BRASIL. Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro. N o . 85. Jan 1923. Pethion <strong>de</strong> Villar é pseudônimo <strong>de</strong> Egas Moniz Barreto <strong>de</strong> Aragão. Médico e<br />
poeta, era primo da mãe <strong>de</strong> <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>.<br />
65<br />
Cf.: SANTOS, Gislene Aparecida. A Invenção do “Ser Negro”: um percurso das idéias que naturalizaram<br />
a inferiorida<strong>de</strong> dos negros. São Paulo: Educ/Fapesp; Rio <strong>de</strong> Janeiro: Pallas, 2002.<br />
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