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Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

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exibia uma composição pejorativa e barbarizada, na preocupação <strong>em</strong> evi<strong>de</strong>nciar que “o<br />

Brasil é diferente do quadro e do pessoal que a macumba exibe”.<br />

A interferência do negro na formação da nacionalida<strong>de</strong> só é admitida por <strong>Pedro</strong><br />

<strong>Calmon</strong> através <strong>de</strong> duas perspectivas. Uma é econômica, através da contribuição realizada<br />

do trabalho escravo; a outra é paternalista, que justifica ações como a exaltação à Mãe<br />

Preta - “a mulher escrava [que] criou nos braços o filho do senhor; trouxe-lhe para o lar<br />

usanças e acepipes africanos, conquistou a proteção e amiza<strong>de</strong> da família branca, pela sua<br />

docilida<strong>de</strong>, pela sua <strong>de</strong>dicação e pelo seu carinho” 5 . Verifica-se que sua visão a respeito do<br />

negro é falseada, irreal, fantasiosa, e escamoteia as lutas e reivindicações dos<br />

afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, negando sua real integração na socieda<strong>de</strong> e história brasileiras.<br />

<strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> <strong>em</strong> quase nada tratou sobre o negro na sua obra historiográfica, e<br />

mais teve a dizer através da literatura. O espaço que o negro não gozou na História da<br />

Civilização Brasileira, <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> lhe <strong>de</strong>u <strong>de</strong> sobra <strong>em</strong> Malês - chamado que foi para<br />

compor a legião dos subjugados na rebelião escrava combatida por fidalgos brancos. Já<br />

para participar da narrativa acadêmica <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma civilização, os negros foram<br />

relegados à marg<strong>em</strong>, e pareceram não servir - o autor preferiu silenciá-los, na diminuição<br />

<strong>de</strong> sua interferência no processo <strong>de</strong> elaboração do caráter nacional. Estas duas obras, a<br />

<strong>de</strong>speito dos seus <strong>de</strong>sencontros, se completam. Juntas, con<strong>de</strong>nsam a imag<strong>em</strong> do negro<br />

erigida pelo autor. Segundo a dinâmica proposta por Robert Darnton, a interpretação <strong>de</strong><br />

uma obra <strong>de</strong>ve ser feita “passando do texto ao contexto e voltando ao primeiro, até abrir<br />

caminho através <strong>de</strong> um universo mental estranho” 6 . Utilizando esta abordag<strong>em</strong> no enfoque<br />

do conjunto <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> aqui analisados, pod<strong>em</strong>os perceber os significados<br />

<strong>de</strong> presença e ausência dos negros <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminados espaços <strong>de</strong> discussão estabelecidos<br />

5 CALMON, <strong>Pedro</strong>. História da Bahia. Resumo didático. 2 a . ed. São Paulo: Cia. Melhoramentos, ca. 1929.<br />

6 DARNTON, Robert. O Gran<strong>de</strong> Massacre <strong>de</strong> Gatos, e Outros Episódios da História Cultural<br />

Francesa. 2ª. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graal, 1986. p.XVII.<br />

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