Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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<strong>de</strong>ste é que acabaria por influenciá-lo <strong>em</strong> campo <strong>de</strong>limitado:<br />
O negro introduziu no Brasil, (região agrícola: zona <strong>de</strong> expansão do africano) “novo<br />
Guiné”, na frase do escritor dos “Diálogos das Gran<strong>de</strong>zas”, o contingente <strong>de</strong> lendas e<br />
crenças, que, enriquecido das indígenas, t<strong>em</strong>perou a simplicida<strong>de</strong>, a credulida<strong>de</strong> e a timi<strong>de</strong>z<br />
do povo ibérico, <strong>em</strong>bebido <strong>de</strong> medievalismo. [HCB, p.30, grifos meus]<br />
Valendo mais pela força do seu trabalho que pela sua influência cultural, a<br />
interferência do africano na constituição do caráter nacional é dada por <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> por<br />
esta curta observação, <strong>em</strong> reservado espaço para sua participação na construção <strong>de</strong> uma<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> brasileira. Citou apenas “lendas e crenças”, simplificando assim a riqueza<br />
cultural dos diferentes grupos africanos que, escravizados, <strong>de</strong>ram orig<strong>em</strong> a muitas gerações<br />
<strong>de</strong> brasileiros.<br />
2.2. VERDADES PATRIÓTICAS<br />
Diante do panorama exposto sobre as representações <strong>de</strong> <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> acerca da<br />
participação das três raças na construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional, observa-se o pouco<br />
<strong>de</strong>staque dado pelo autor às contribuições africanas ao conjunto. Enquanto o índio se faz<br />
representar operando transformações no modo <strong>de</strong> vida dos europeus – que teriam,<br />
inclusive, se “indianizado”, e enquanto “o colono português (...) por toda parte espalhou as<br />
suas tradições nacionais”, nota-se a participação discreta, ou diminuta contribuição, do<br />
negro na formulação do que seja uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> brasileira 89 .<br />
Não era <strong>de</strong> se esperar que um historiador atento como <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> fosse incapaz<br />
<strong>de</strong> perceber a presença africana na composição do caráter brasileiro. Conviveu<br />
cotidianamente com homens e mulheres <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> escravos africanos na Bahia,<br />
“província que maior número <strong>de</strong> escravos pretos recebeu” 90 , e lhes conhecia b<strong>em</strong> muitos<br />
dos traços culturais. Ad<strong>em</strong>ais, nos idos dos anos 1930, a presença da cultura africana já era<br />
89 HCB, p.66.<br />
90 CALMON, <strong>Pedro</strong>. História da Bahia. Resumo didático. 2 a . ed. São Paulo: Cia. Melhoramentos, ca. 1929.<br />
p.27.<br />
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