Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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Leitor <strong>de</strong>satento, ou insincero, o Sr. <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> (...). Aqui, o Sr. <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> cita<br />
um documento. Mas esse documento não t<strong>em</strong> uma única palavra que autorize a frase final<br />
do articulista (...). O Sr. <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> imaginou que assim fosse.<br />
(...) A frase do <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> <strong>de</strong>strói tudo o que ele veio escrevendo sobre essa questão.<br />
T<strong>em</strong> a sonorida<strong>de</strong> das palinódias. Reponta fácil e espontânea, como um <strong>de</strong>safogo do<br />
subconsciente. Matéria para «freudistas». Que autorida<strong>de</strong> lhe resta, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tudo isso,<br />
para preten<strong>de</strong>r afirmar que a marg<strong>em</strong> esquerda do S. Francisco foi uma «terra <strong>de</strong> todos»?<br />
(...) E é arriscado concluir alguma coisa nesse autor, on<strong>de</strong> os anacronismos se<br />
dissimulam como parceis. (...) Fique, pois, ao Sr. <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> optar por<br />
um dos dois erros.<br />
(...) Sobre esse alicerce imaginário, que parece mais efeito <strong>de</strong> mirag<strong>em</strong>, o Sr. <strong>Pedro</strong><br />
<strong>Calmon</strong> preten<strong>de</strong> apoiar a sua tese. (...) hipótese capenga. 3 [grifos meus]<br />
Apesar da clara motivação política <strong>de</strong>ste conflito, que contextualiza a violenta<br />
<strong>de</strong>squalificação que Sobrinho impõe a <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>, a exacerbação da crítica do jurista<br />
não a invalida por completo. O uso ten<strong>de</strong>ncioso <strong>de</strong> informações, a construção <strong>de</strong> teses<br />
convenientes, imprecisões, contradições, são os reflexos do exercício <strong>de</strong> uma ciência<br />
subjetivada e inserida <strong>em</strong> um contexto social. <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> não fugiu ao quadro,<br />
d<strong>em</strong>onstrando engajamento às suas proposições. Por isso aparecia para Sobrinho como um<br />
dissimulador <strong>de</strong> anacronismos, que <strong>de</strong>senvolvia raciocínios arbitrários e hipóteses<br />
capengas apoiadas <strong>em</strong> alicerces imaginários, que mais pareciam “efeito <strong>de</strong> mirag<strong>em</strong>” -<br />
como ironizou o jurista. Na velhice, o próprio <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> admitiria alguns pecadilhos<br />
<strong>de</strong> juventu<strong>de</strong>: “Mas qu<strong>em</strong> espera aos 28 anos, quando a febre da produção nos estala os<br />
nervos s<strong>em</strong> a paciência da pesquisa, o cérebro, como a colméia <strong>de</strong> abelhas d´oiro zunindo<br />
a música do trabalho?” 4 .<br />
Desta forma, ao pensar a composição racial i<strong>de</strong>al para configurar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da<br />
socieda<strong>de</strong> “média” brasileira, não <strong>de</strong>scuidou <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> <strong>de</strong> pesar-lhe b<strong>em</strong> as medidas.<br />
No que valia contar como uma história <strong>de</strong> civilização, <strong>de</strong>stacou o português, apontou lugar<br />
ao índio, e margeou o africano. Este, com presença irregular nas suas produções, s<strong>em</strong>pre<br />
3 LIMA SOBRINHO, Barbosa. A Bahia e o Rio São Francisco. Réplica ao Sr. <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>. Separata da<br />
REVISTA DO INSTITUTO ARQUEOLÓGICO, HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PERNAMBUCANO.<br />
Recife: Imprensa Oficial, 1931.<br />
4 CALMON, <strong>Pedro</strong>. M<strong>em</strong>órias. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira. 1995. p.185. [grifos meus]