Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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<strong>em</strong> geral também era imposto a esses africanos: o <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> cruéis – e, conseqüent<strong>em</strong>ente,<br />
perigosos. <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> já os d<strong>em</strong>onstrava t<strong>em</strong>idos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando o fidalgo <strong>de</strong> Alma <strong>de</strong><br />
Preta, no engenho <strong>de</strong> Mataripe, os chamou <strong>de</strong> “maldita raça dos aussás” 43 .<br />
Apostando <strong>em</strong> motivações religiosas, o autor atribui o sentido <strong>de</strong> uma guerra santa<br />
a rebelião <strong>de</strong> 1835 44 , dando esta <strong>de</strong>finição específica para a revolta, garantiu que os malês<br />
“não odiavam os brancos pelas mesmas razões dos outros africanos. Queriam-lhes mal<br />
pelo horror que o profeta ensinara, aos cristãos, senhores da fé invencível” 45 . A partir <strong>de</strong>sta<br />
sugestão <strong>de</strong> luta religiosa, a narrativa impõe aos malês a imag<strong>em</strong> do ódio aos infiéis, da<br />
“fogosa combativida<strong>de</strong> do islamismo intolerante” – como quis <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>,<br />
caracterizando-os como africanos terrivelmente ameaçadores, capazes das piores ações.<br />
Segundo o autor, “eles pilham, matam, incen<strong>de</strong>iam, e nas trevas combinam alguma cousa<br />
ainda mais terrível e absurda” 46 . Mas, nos momentos <strong>de</strong>cisivos da batalha, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong><br />
sua inteligência ou cruelda<strong>de</strong>, os malês insurretos tombam diante das milícias oficiais. Em<br />
análise, <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> aponta um importante motivo para esta <strong>de</strong>rrota: “faltou inteligência<br />
dirigente, dir-se-ia a alma da luta. Os malês caíram <strong>de</strong> imprevisto, numa <strong>de</strong>sord<strong>em</strong><br />
selvag<strong>em</strong>, <strong>de</strong> horda <strong>de</strong>sgovernada...” 47 .<br />
Na narrativa, os malês per<strong>de</strong>ram a sua vantag<strong>em</strong> perante os brancos, pois ela só se<br />
sustenta diante da comparação entre outros <strong>de</strong> sua raça. <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> expressa sua<br />
preocupação <strong>em</strong> estabelecer parâmetros <strong>de</strong> referência <strong>de</strong> distinção racial, numa ação muito<br />
própria à sua cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> as relações pessoais e <strong>de</strong> trabalho estabeleciam-se<br />
43<br />
CALMON, <strong>Pedro</strong>. Alma <strong>de</strong> Preta. Rio, Jan <strong>1922</strong>. Manuscrito. Doc.7, Cx.114. Fundo <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> da<br />
FPC.<br />
44<br />
Outros autores também concordam com a interpretação <strong>de</strong> uma guerra santa para o levante dos malês, a<br />
ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Nina Rodrigues e Pierre Verger.<br />
45<br />
Malês, p.41.<br />
46<br />
Ibid., p.122.<br />
47<br />
Ibid.,p.95, grifos meus.<br />
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