Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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jornalística 30 , ou pessoalmente, participando <strong>de</strong> honoríficos jantares e proferindo<br />
conferências. Contudo, soube também galgar outros espaços, junto ao próprio Getúlio<br />
Vargas, que mais tar<strong>de</strong>, nos anos do Estado Novo, o nomearia professor da Universida<strong>de</strong><br />
do Brasil. Mas, naqueles primeiros anos da década <strong>de</strong> 1930, a situação se lhe mostrava<br />
nebulosa - b<strong>em</strong> como para os d<strong>em</strong>ais m<strong>em</strong>bros das elites baianas afastadas<br />
momentaneamente do po<strong>de</strong>r. O futuro lhes parecia incerto. O pensamento <strong>de</strong> Miguel<br />
<strong>Calmon</strong>, nas palavras do autor, expressa um sentimento que certamente não era apenas seu,<br />
e encontrava eco entre muitos oligarcas baianos:<br />
104<br />
Tio Miguel partiu <strong>em</strong> boa hora para a Europa, achando que a sua geração, a que<br />
consolidara e justificara a República, não teria mais a oportunida<strong>de</strong>, e o t<strong>em</strong>po,<br />
só o t<strong>em</strong>po, daria ao País a normalida<strong>de</strong> perdida. Não transigiria com os<br />
vitoriosos. Para ele, 24 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1930 foi o dia <strong>de</strong>cisivo. O da fratura.<br />
Para trás, a sua época; para diante, o incalculável. Descria dos homens<br />
novos, a começar por Getúlio Vargas. 31 [grifos meus]<br />
A luta do passado exposta <strong>em</strong> Malês serviu, naquele momento, para reafirmar a<br />
batalha <strong>de</strong> um presente pouco glorioso e bastante incerto. Para <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>, r<strong>em</strong><strong>em</strong>orar<br />
os feitos da “sua gente” <strong>em</strong> formas i<strong>de</strong>alizadas, po<strong>de</strong>ria servir tanto <strong>de</strong> advertência aos que<br />
os <strong>de</strong>safiavam como também <strong>de</strong> inspiração aos que se julgavam legítimos legatários do<br />
po<strong>de</strong>r. Como cita Eric Hobsbawm, “o passado fornece um pano <strong>de</strong> fundo mais glorioso a<br />
um presente que não t<strong>em</strong> muito o que com<strong>em</strong>orar” 32 . <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> sinaliza <strong>em</strong> Malês o<br />
prenúncio <strong>de</strong> uma tendência que ganharia força na historiografia dos anos seguintes:<br />
engajada aos interesses oligárquicos e comprometida <strong>em</strong> construir uma m<strong>em</strong>ória dos<br />
grupos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>em</strong> função <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s do presente. Resta clara a opção <strong>de</strong> <strong>Pedro</strong><br />
<strong>Calmon</strong>, <strong>em</strong> suas próprias palavras sobre a sua produção <strong>de</strong>sse período:<br />
Escrevi, enfim, com a varieda<strong>de</strong> que os fatos inspiravam, a livre opinião, sobre<br />
quantos aspectos da vida interessavam ao observador indisposto com o<br />
30<br />
CALMON, <strong>Pedro</strong>. M<strong>em</strong>órias. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1995. p. 201. p.187.<br />
31<br />
Loc. Cit., p. 181.<br />
32<br />
HOBSBAWM, Eric. Dentro e fora da História. Sobre História. São Paulo: Cia das Letras, 1998. p.17.