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Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

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Mas a dignida<strong>de</strong> e honra <strong>em</strong>prestadas à cena on<strong>de</strong> esses africanos se entregam à morte<br />

<strong>de</strong>stinam um significado específico aos negros cont<strong>em</strong>porâneos <strong>de</strong> <strong>Calmon</strong>. Afinal, os<br />

malês se rebelaram, lutaram bravamente até o final <strong>de</strong> suas vidas – mas o fato é que<br />

morreram nas mãos da polícia. A narrativa adquire aqui um sentido didático dirigido às<br />

classes economicamente subalternas, compostas por muitos negros, muitas vezes então<br />

associadas ao crime e à periculosida<strong>de</strong>: d<strong>em</strong>onstra que os infratores têm as suas penas,<br />

principalmente se for<strong>em</strong> “negros, vencidos, e maus” 53 , como <strong>de</strong>finiu <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>,<br />

valendo-se <strong>de</strong> uma percepção comum ao período <strong>em</strong> que vivia. Para a antropóloga Olívia<br />

Maria Gomes da Cunha é justo a partir do governo Getúlio Vargas que o sist<strong>em</strong>a criminal<br />

sofre uma gran<strong>de</strong> revisão, tendo como uma <strong>de</strong> suas bases <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a socieda<strong>de</strong> do que<br />

chamavam “perigos internos”, <strong>de</strong>ntre eles – segundos os autos criminais e estatísticas da<br />

época – estavam os “pardos, mestiços, mulatos e pretos” 54 .<br />

112<br />

Simbolicamente, a morte dos chefes malês também representa a falência <strong>de</strong> uma<br />

cultura que, por razões diversas, não conseguiu prosperar nessas terras. S<strong>em</strong> dúvida,<br />

contribuíram para o seu <strong>de</strong>saparecimento as penas <strong>de</strong> <strong>de</strong>gredo executadas após o levante <strong>de</strong><br />

1835, e a violenta repressão imposta aos escravos que aqui permaneceram. O ex<strong>em</strong>plo da<br />

luta malê na Bahia era apenas m<strong>em</strong>ória, reavivada <strong>de</strong> forma tão partidária por <strong>Pedro</strong><br />

<strong>Calmon</strong>, ao l<strong>em</strong>brá-los a partir <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>rrota. Restava assim muito claro o <strong>de</strong>stino<br />

daqueles que tentavam se insurgir contra a socieda<strong>de</strong> organizada pelos aristocratas da<br />

Bahia. A mensag<strong>em</strong> podia ser codificada <strong>de</strong> maneira límpida pelos negros daqueles anos.<br />

Em 1936, <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> malê r<strong>em</strong>anescente, Édison Carneiro <strong>de</strong>clarou:<br />

Os malês, na Bahia, tiveram o seu t<strong>em</strong>po... Atualmente, não há culto malê organizado e os<br />

próprios negros maometanos são raros. Ainda consegui ouvir, <strong>de</strong> uma negra haussá, hoje<br />

53 Ibid., p.118.<br />

54 CUNHA, Olívia Gomes da. “19<strong>33</strong>: um ano <strong>em</strong> que fiz<strong>em</strong>os contato”. In: REVISTA USP, n.28, 1995/6.<br />

p.146.

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