A DIVERSIDADE DA CONDIÃÃO HUMANA - Faders - Governo do ...
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Falar em estigma é considerar as marcas que uma sociedade deixa em seus seres sociais.<br />
Quan<strong>do</strong> determina<strong>do</strong>s padrões socialmente da<strong>do</strong>s não são cumpri<strong>do</strong>s por um sujeito, o<br />
mesmo corre o risco de se tornar um estigmatiza<strong>do</strong>. Corren<strong>do</strong>-se o risco, assim, de receber<br />
uma marca, com a qual as outras pessoas irão se relacionar, antes mesmo de perceber o<br />
sujeito que está por detrás da mesma. O imaginário social está fortemente condiciona<strong>do</strong><br />
para a estranheza diante daquilo que não é da ordem <strong>do</strong> ordinário. O ordinário é percebi<strong>do</strong><br />
como o ideal, como aquilo que deve acontecer, é ordem das coisas no social, o lugar<br />
seguro. A visão sobre essa ordem "perfeita", no ordinário, se sobrepõe à percepção da<br />
pessoa enquanto pessoa, uma vez que ela não cumpra tal prerrogativa. O depoimento que<br />
segue, é significativo para demonstrar essas afirmativas:<br />
"O importante é que as pessoas entendam que não se tem que procurar o<br />
específico da problemática de uma criança para entender sua deficiência,<br />
deveria percebê-la antes de tu<strong>do</strong> como criança. Tem que ver primeiro a<br />
pessoa e depois sua marca ou sua deficiência. O que acontece é o<br />
contrário. Na escola, principalmente, é muito complicada a aceitação de<br />
tu<strong>do</strong> que foge da 'normalidade'. Sempre causa espanto uma criança com<br />
diabete, porta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> vírus de HIV positivo ou que portem qualquer<br />
diferença. Isso passa ser o principal, a primeira questão. A criança não é<br />
considerada, mas sua marca, seu 'defeito' sim, esse vale" (Entrevista<br />
realizada em maio de 2001).<br />
Em diversas instâncias da sociedade a situação de estigmatização é produzida e<br />
reproduzida. Em geral o início <strong>do</strong> processo discriminatório começa na família. A filiação<br />
acontece de maneira diferenciada, no caso das pessoas porta<strong>do</strong>ras de deficiência. Os filhos,<br />
em geral, são espera<strong>do</strong>s para responder a uma expectativa de normalidade que já é dada no<br />
social. A reação mais comum, com a chegada de uma criança com alguma deficiência, é a<br />
da rejeição e o pesar. O "luto <strong>do</strong> bebê perfeito" começa a ser considera<strong>do</strong>, como algo<br />
necessário, para que a criança real seja aceita e passe a conviver naquela família. Há um<br />
olhar <strong>do</strong>s familiares, <strong>do</strong>s parentes, <strong>do</strong>s vizinhos, que por vezes, vai definir um lugar<br />
diferencia<strong>do</strong> de inserção daquela criança no seu contexto de vida. Uma inserção, quase<br />
sempre, atravessada por muitas marcas. "A espera da mãe de uma criança perfeita, resulta<br />
que seu 'troféu veio arranha<strong>do</strong>', e aí esse 'troféu' não vai para estante, nem para vitrine, e o<br />
que é pior ele nem sairá de casa" (Entrevista realizada em jan. de 2002).