A DIVERSIDADE DA CONDIÃÃO HUMANA - Faders - Governo do ...
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reconhecida no social. Uma outra linguagem, não falada, gesticulada e/ou sinalizada, que é<br />
própria à condição da surdez, deveria, nesse raciocínio, estar absolutamente inserida no<br />
contexto relacional. Uma linguagem <strong>do</strong>s sinais seria, nesse entendimento um recurso de<br />
comunicação e acesso ao mun<strong>do</strong> e não uma marca, um estigma ou uma alteridade negativa.<br />
"É estranho quan<strong>do</strong> se chega na escola de crianças surdas, durante o<br />
recreio não se ouve barulho algum. Em um aniversário, comemora<strong>do</strong> na<br />
escola, a festinha é feita em silêncio. Parece um outro mun<strong>do</strong> infantil, as<br />
crianças em geral são tão barulhentas e lá é aquele silêncio, é muito<br />
diferente quan<strong>do</strong> não se está acostuma<strong>do</strong> com esta realidade" (Seminário<br />
realiza<strong>do</strong> em set. de 2001).<br />
A diferença não pode mais ser subentendida como inferioridade e nem tão pouco estar a<br />
serviço e justificar a exploração e marginalidade. No caso da surdez e <strong>do</strong>s ouvintes, os<br />
segun<strong>do</strong>s, em geral, tomam como valor universal à linguagem falada, se tornan<strong>do</strong> assim o<br />
"silêncio", uma distinção, uma alteridade distintiva. O problema é tornar esta distinção uma<br />
marca de "menoridade". No desenrolar das relações sociais está fortemente impregnada a<br />
idéia de que tu<strong>do</strong> que é distinto é estranho e o que é estranho é imperfeito, deve ficar de<br />
fora.<br />
A "distinção" peculiar à surdez foi por muito tempo sinônimo de banimento e exclusão.<br />
WRIGLEY coloca que a surdez é como "um país", um "território estrangeiro". Em<br />
contraposição a visão que coloca a surdez na condição de deficiência audiológica "os<br />
sur<strong>do</strong>s definem a si mesmo de forma cultural e lingüistica" (1996 p.13). Nessa perspectiva<br />
a surdez é vista como uma identidade própria, um país com sua cultura e sua linguagem<br />
própria, uma distinção respeitável a ser reconhecida.<br />
Para pertencer à comunidade <strong>do</strong>s sur<strong>do</strong>s o grau de perda auditiva não é relevante, o<br />
importante é sua auto-identificação como sur<strong>do</strong> e especialmente o uso de uma linguagem<br />
<strong>do</strong>s sinais. O que vai definir a auto-identificação como pertencente a uma minoria<br />
lingüística ou étnica é ter uma língua própria e poder usá-la (WRIGLEY, 1996, p.15).<br />
Como será visto no próximo capítulo, os sur<strong>do</strong>s foram proibi<strong>do</strong>s de usar sua própria língua,<br />
durante muito tempo, em muitas partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Esta proibição relegou as pessoas a falta<br />
de lugar no mun<strong>do</strong>, como um país sem lugar próprio, sem origem geográfica.