Critica-Textual-do-Novo-Testamento
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114 • CRÍTICA TEXTUAL DO NOVO TESTAMENTO<br />
publicar o texto grego <strong>do</strong> NT era mais comercial que crítico, apesar de<br />
procurarem introduzir algumas alterações no texto que tomaram como<br />
base, a terceira edição de Estéfano, e o fazerem em 287 lugares.<br />
Algumas das mudanças foram baseadas nas edições de Beza, mas nem<br />
todas, de maneira que havia passagens em que seu texto divergia tanto<br />
<strong>do</strong> de Beza quanto <strong>do</strong> de Estéfano.<br />
A segunda edição, publicada em 1633, é duplamente importante.<br />
Em primeiro lugar, porque serviu de base para a tradução de Almeida<br />
<strong>do</strong> NT em língua portuguesa, por sinal a 13.a tradução numa língua<br />
moderna depois da Reforma.20 Publicada originariamente em 1681, em<br />
Amsterdã, essa tradução sofreu sucessivas revisões com relação à<br />
linguagem e à ortografia, especialmente na segunda metade <strong>do</strong> século<br />
XIX e primeira metade <strong>do</strong> século x x ,21 mas o antigo texto erasmiano<br />
sobreviveu e continua bem presente na popular versão Revista e<br />
Corrigida, nome que tem desde 1898, e na Edição Contemporânea,<br />
lançada em 1990.<br />
A outra razão pela qual a segunda edição <strong>do</strong>s Elzevires merece<br />
destaque é bem mais ampla, e concerne à história geral <strong>do</strong> texto<br />
neotestamentário. No prefácio em latim, anunciava-se que o leitor<br />
tinha em mãos “o texto que é agora recebi<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s, no qual nada<br />
damos de modifica<strong>do</strong> ou corrompi<strong>do</strong>” .22 E foi desse elogio<br />
exagera<strong>do</strong> <strong>do</strong>s editores à própria obra que nasceu a expressão “texto<br />
recebi<strong>do</strong>” (textus receptus), o qual, na verdade, não era outro senão<br />
o próprio texto bizantino, um texto posterior e inferior, que rolara<br />
durante centenas de anos em cópias manuscritas e acumulara uma<br />
sobrecarga de acréscimos e erros equivalentes a 15% <strong>do</strong> n t .23 Apesar<br />
disso, tornou-se o texto básico <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> protestante, e sua autoridade<br />
era considerada canônica. Os dias <strong>do</strong> século xv já eram decorri<strong>do</strong>s<br />
quan<strong>do</strong> o texto da Vulgata Latina passava a ser aceito como<br />
20 Bittencourt, O <strong>Novo</strong> <strong>Testamento</strong>: cânon, língua, texto, p. 210.<br />
21 Veja John Mein, A Bíblia e como chegou até nós, p. 69-79, e Bittencourt, op.<br />
cit., p. 216.<br />
22 Em latim: “textum ergo habes, nunc ab omnibus receptum: in quo nihil<br />
immutatum aut corruptum damus".<br />
23 Champlin, O <strong>Novo</strong> <strong>Testamento</strong> interpreta<strong>do</strong>, v. 1, p. 100.