Critica-Textual-do-Novo-Testamento
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
176 • CRÍTICA TEXTUAL DO NOVO TESTAMENTO<br />
alexandrino (N e B), ocidental (D e a maioria <strong>do</strong>s antigo-latinos) e<br />
pré-cesareense (f) omitem a <strong>do</strong>xologia em qualquer de suas formas,<br />
o mesmo acontecen<strong>do</strong> com os mais antigos comentários patrísticos<br />
sobre o pai-nosso, como os de Tertuliano, Orígenes e Cipriano. O<br />
primeiro Pai da Igreja a citá-la foi João Crisóstomo, no final <strong>do</strong> século<br />
IV, e o mais antigo ms. grego a registrá-la é o Códice<br />
Washingtoniano, <strong>do</strong> século V; sua ocorrência torna-se comum apenas<br />
em mss. bizantinos mais recentes.<br />
As evidências <strong>do</strong>cumentais, portanto, sugerem que a <strong>do</strong>xologia <strong>do</strong><br />
pai-nosso consiste num acréscimo posterior. O fato de constar no<br />
Diatessaron, de Taciano, e no Didaquê revela que sua origem é<br />
bastante antiga, poden<strong>do</strong> mesmo recuar ao final <strong>do</strong> século I, mas não<br />
encontrou caminho para o texto grego senão a partir <strong>do</strong> século v.<br />
Evidência interna. Bittencourt chama a atenção para o fato de que<br />
o texto sem a <strong>do</strong>xologia é mais simples e está mais de acor<strong>do</strong> com a<br />
realidade religiosa de Jesus e sua simplicidade.6 De fato, os Sinóticos<br />
não registram nenhuma expressão de louvor tão retórica quanto essa<br />
como ten<strong>do</strong> saí<strong>do</strong> <strong>do</strong>s lábios de Cristo. Mas o argumento interno mais<br />
forte contra a autenticidade dessa leitura parece vir de Lucas 11.2-4,<br />
em que a mesma oração omite a <strong>do</strong>xologia, e é notório constatar que<br />
a tradição manuscrita nessa passagem exibe vários esforços por tentar<br />
harmonizá-la ao texto paralelo de Mateus, em praticamente os mesmos<br />
mss. que nele adicionam a <strong>do</strong>xologia.7<br />
Por que razão os copistas, ao harmonizarem Mateus e Lucas, não<br />
acrescentaram ao segun<strong>do</strong> a <strong>do</strong>xologia que eles mesmos haviam<br />
acrescenta<strong>do</strong> ao primeiro? A resposta parece ser a seguinte: sen<strong>do</strong> a<br />
Oração <strong>do</strong> Senhor na versão de Mateus a mais usada na liturgia cristã<br />
primitiva, como ainda hoje, por ser mais completa e fluente, os<br />
escribas optaram por acrescentar a <strong>do</strong>xologia somente ali, enquanto<br />
em Lucas introduziram apenas os elementos que faltavam para uma<br />
simples harmonização <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> original. Em outras palavras, em<br />
Mateus o acréscimo foi por razões litúrgicas, ao passo que em Lucas,<br />
6 O <strong>Novo</strong> <strong>Testamento</strong>: cânon, língua, texto, p. 204.<br />
7 Veja o aparato crítico de Lucas 11.2-4.