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Critica-Textual-do-Novo-Testamento

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ANÁLISE DE TEXTOS • 183<br />

pertencer a um peca<strong>do</strong>r, ele não fez outra coisa senão expressar o<br />

mesmo sentimento de devoção e respeito. Convém notar, porém, que<br />

Orígenes não mantém essa hipótese e prefere encontrar no texto longo<br />

o que chamou de “mistério” .21 E, ao suprimir “Jesus” antes de<br />

“Barrabás” , o copista também poderia estar realizan<strong>do</strong> uma segunda<br />

obra, a de harmonizar Mateus e Marcos (15.7), o que consistia em<br />

grande tentação para qualquer escriba.<br />

Tem-se muitas vezes sugeri<strong>do</strong> que “Jesus Barrabás” nos versículos<br />

16 e 17 não pode ser original, uma vez que está ausente nos versículos<br />

20 e 26, onde também deveria ser encontra<strong>do</strong>. Mas, os <strong>do</strong>is casos são<br />

diferentes. Nos versículos 20 e 26, o grego de Mateus segue Marcos<br />

bem de perto (veja Mc 15.11, 15), enquanto nos versículos 16, 17 e<br />

nos seguintes, deixa-o, especialmente no 19, ao introduzir o relato<br />

único acerca da mulher de Pilatos. Portanto, nada há de extraordinário<br />

que em tal contexto Mateus colocasse um novo pormenor a respeito<br />

de Barrabás, e também não seria a primeira vez que ele estaria sen<strong>do</strong><br />

mais preciso na menção de um nome próprio (veja Mt 9.9; 26.3, 57).<br />

Além disso, há que se destacar que a forma t ò v BapaPPàv nos mss.<br />

B e 1010 parece pressupor a presença de 'Jrjaovv em algum ms.<br />

anterior, e que a própria declaração de Pilatos parece indicar que se<br />

tratava de <strong>do</strong>is homônimos: o aden<strong>do</strong> “chama<strong>do</strong> Cristo” não teria<br />

muito senti<strong>do</strong> se os <strong>do</strong>is nomes fossem diferentes. Por fim, deve ser<br />

lembra<strong>do</strong> que se a tradição evangélica preserva o nome de Barrabás,<br />

enquanto perde de vista os nomes <strong>do</strong>s outros <strong>do</strong>is ladrões, é porque<br />

originariamente ele poderia oferecer um paralelo explícito ao nome de<br />

Jesus.22<br />

Conclusão. Consideran<strong>do</strong>-se tu<strong>do</strong>, portanto, o texto mais longo<br />

possui todas as características de haver si<strong>do</strong> parte <strong>do</strong> original, mas,<br />

porque os mais zelosos dentre os fiéis não o teriam aprecia<strong>do</strong>, é muito<br />

provável que logo veio a ser corrigi<strong>do</strong>. Permaneceu, todavia, em<br />

certos textos locais da Palestina e da Síria, e também na recensão<br />

cesareense, graças ao texto de Orígenes, mas, devi<strong>do</strong> à relativa<br />

21 Comentário de Mateus, sér. 121.<br />

22 Os nomes “Dimas” e “Gestas” são atribuí<strong>do</strong>s aos outros <strong>do</strong>is ladrões unicamente<br />

na tradição apócrifa, no chama<strong>do</strong> evangelho de Nicodemos (1.10).

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