Critica-Textual-do-Novo-Testamento
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204 • CRÍTICA TEXTUAL DO NOVO TESTAMENTO<br />
si<strong>do</strong> omiti<strong>do</strong>s juntamente com os demais. Assim, reiteran<strong>do</strong> o que já<br />
foi dito, parece não haver dúvida de que o relato da mulher adúltera<br />
não é obra de João.<br />
A questão, porém, não termina por aqui, pois embora não<br />
possamos afirmar que a história faça parte <strong>do</strong> quarto evangelho, nós<br />
podemos “sentir” que ela é verdadeira e corresponde plenamente ao<br />
caráter de Jesus.51 Com efeito, “o caráter inspira<strong>do</strong> e a autenticidade<br />
histórica” <strong>do</strong> relato deveriam ser coloca<strong>do</strong>s acima de qualquer<br />
suspeita, 52 opinião essa defendida por muitos autores tanto antigos<br />
quanto modernos, incluin<strong>do</strong>-se os pesquisa<strong>do</strong>res das Sociedades<br />
Bíblicas Unidas, 53 o que explica o grau de certeza “A ” coloca<strong>do</strong> no<br />
aparato crítico.<br />
Acredita-se, em geral, que esse relato consista num fragmento de<br />
material evangélico autêntico não incluí<strong>do</strong> originariamente em nenhum<br />
<strong>do</strong>s quatro evangelhos, mas que, sen<strong>do</strong> preserva<strong>do</strong> mediante alguma<br />
tradição escrita ou oral, acabou mais tarde sen<strong>do</strong> anota<strong>do</strong> à margem<br />
<strong>do</strong> evangelho de João, talvez para ilustrar a declaração de Jesus em<br />
8.15 — “ ...eu a ninguém julgo” — e daí logo chegou a ser incluí<strong>do</strong><br />
no texto de muitas cópias. A maioria <strong>do</strong>s copistas evidentemente<br />
pensou que interromperia menos a narrativa se a passagem fosse<br />
inserida após 7.52, ao passo que outros a inseriram após 7.36 (ms.<br />
225), 7.44 (vários mss. geórgicos) 54 ou 21.25 ( f e mss. armênios);<br />
e outros ainda o fizeram em Lucas, após 21.38 ( f 3) ou 24.53 (ms.<br />
1333), e isso pode ter aconteci<strong>do</strong> em função <strong>do</strong> estilo, que obviamente<br />
é muito mais lucano que joanino.<br />
Que se trata de uma narrativa bastante antiga não há a menor<br />
dúvida, embora tenha demora<strong>do</strong> para ser introduzida na tradição<br />
manuscrita grega. Na Didascália, obra de origem síria <strong>do</strong> início <strong>do</strong><br />
século III, aparece uma referência específica à história da adúltera<br />
como um exemplo bem conheci<strong>do</strong> da bondade de Jesus. Como parte<br />
de um conjunto de regulamentos eclesiásticos para uso de uma<br />
comunidade étnico-cristã, essa referência certamente significa que a<br />
51 M orris, op. cit., p. 883.<br />
52 Bruce V aw ter, Comentário bíblico San Jerónimo, p. 466.<br />
53 Veja M etzger, A textual commentary on the Greek New Testament, p. 220.<br />
54 Ibid., p. 2 2 1.