RESERVA NATURAL VALE
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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA <strong>RESERVA</strong> <strong>NATURAL</strong> <strong>VALE</strong><br />
Com foco na conservação e uso sustentável<br />
das espécies nativas e na recuperação dos<br />
serviços ambientais da floresta, existe urgência<br />
em implementar ações de restauração em<br />
cumprimento à legislação brasileira (Garay, 2006;<br />
Brasil, 2012). Assim, os efeitos das intervenções<br />
antrópicas sobre a sustentabilidade e integridade<br />
do mosaico florestal como um todo devem ser<br />
avaliados a fim de subsidiar e monitorar ações de<br />
manejo e restauração (Kindel et al., 1999; Garay &<br />
Kindel, 2001; Villela et al., 2006; ITTO, 2012; van<br />
Andel & Aronson, 2012).<br />
Formas de húmus e funcionamento de<br />
florestas<br />
O conjunto das camadas orgânicas de superfície<br />
e os horizontes orgânico-minerais de topo do<br />
solo constituem as formas de húmus florestais<br />
consideradas estáveis em ecossistemas não<br />
perturbados pelo homem (Duchaufour & Toutain,<br />
1985). A estrutura dos húmus reflete um conjunto<br />
de processos complexos do qual participam<br />
inúmeras espécies animais e de microorganismos<br />
que conduzem à decomposição da matéria orgânica<br />
e à reciclagem de nutrientes. Determinadas<br />
inicialmente pela qualidade e quantidade dos<br />
aportes orgânicos, sobretudo de origem vegetal,<br />
e pela natureza da rocha matriz, as formas de<br />
húmus sintetizam o conjunto destes processos e<br />
são, portanto, um indicador do funcionamento dos<br />
ecossistemas florestais (Garay & Kindel, 2001;<br />
Ponge, 2013; Cesário et al., 2015).<br />
Em florestas temperadas e boreais, as formas<br />
de húmus foram e são amplamente estudadas e<br />
classificadas, visando compreender a dinâmica<br />
florestal e subsidiar o manejo, destinado, em<br />
geral, à produção de madeira (Babel, 1971; 1975;<br />
Delecour, 1980; Garay, 1980; Klinka et al., 1990;<br />
Green et al., 1993; Berthelin et al., 1994; Emmer &<br />
Sevink, 1994; Brethes et al., 1995; Fons & Klinka,<br />
1998; Fons et al., 1998; Fischer et al., 2002;<br />
Ponge et al., 2002; Jabiol et al., 2004; Feller et<br />
al., 2005; Ponge & Chevalier, 2006; Zanella et al.,<br />
2009, entre outros).<br />
Pesquisas em florestas tropicais de<br />
terras baixas evidenciam que as formas de<br />
húmus predominantes e suas características<br />
morfológicas, que revelam padrões de<br />
decomposição associados às interações<br />
vegetação-solo, acompanham a grande<br />
diversidade de situações próprias a esses<br />
ecossistemas e sua dinâmica (Garay et al.,<br />
1995; Lips & Duivenvoorden, 1996; Kindel &<br />
Garay, 2002; Loranger et al., 2003; Baillie et al.,<br />
2006; Kounda-Kiki et al., 2006; Descheemaeker<br />
et al., 2009). A hipótese segundo a qual em<br />
florestas tropicais as altas temperaturas médias<br />
e umidade determinam uma rápida velocidade<br />
de decomposição e, portanto, uma única forma<br />
de húmus tipo mull, deve ser definitivamente<br />
descartada.<br />
Avaliação dos ecossistemas emergentes no<br />
mosaico florestal com status de conservação<br />
por meio das formas de húmus<br />
Sob a hipótese de que as formas de húmus<br />
florestais constituem um indicador global do<br />
funcionamento do ecossistema, isto é, das interrelações<br />
entre a vegetação e o solo (Garay &<br />
Kindel, 2001), o presente trabalho apresenta<br />
um estudo comparativo entre diferentes fácies<br />
do mosaico florestal da Floresta Atlântica de<br />
Tabuleiros da Reserva Natural Vale.<br />
Com base na escolha de quatro sistemas<br />
preservados de qualquer atividade antrópica<br />
desde os anos 60, quando da criação da Reserva,<br />
verificou-se a consequência das modificações<br />
da cobertura arbórea originadas pelas atividades<br />
humanas sobre o subsistema de decomposição.<br />
Dois dentre eles correspondem à floresta primária<br />
sem histórico de perturbação recente - Mata<br />
Alta e Mata Ciliar - que se contrapõem a uma<br />
mancha florestal, objeto de intenso extrativismo<br />
seletivo nos anos 50, e a uma parcela florestal<br />
de regeneração natural, adquirida pela Vale após<br />
corte, queima e plantio temporário de café,<br />
igualmente na década de 50.<br />
Em uma primeira parte, a estrutura da<br />
vegetação é caracterizada do ponto de vista<br />
funcional, tanto em relação às características<br />
sucessionais quanto ao grau de esclerofilia das<br />
espécies arbóreas dominantes que determinam,<br />
em parte, a qualidade dos aportes foliares ao<br />
subsistema de decomposição. Em seguida, são<br />
apresentadas estimativas dos estoques de matéria<br />
orgânica nas camadas húmicas, da qualidade dos<br />
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