RESERVA NATURAL VALE
livrofloresta
livrofloresta
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA <strong>RESERVA</strong> <strong>NATURAL</strong> <strong>VALE</strong><br />
130<br />
Há muitos estudos que tratam dos efeitos da<br />
fragmentação e da perda de habitat, porém, em<br />
sua grande maioria, tais estudos têm foco nos<br />
efeitos sobre a diversidade taxonômica (Laurance<br />
et al., 2006; Arroyo-Rodrigues et al., 2009).<br />
Mais recentemente, há um crescente interesse na<br />
diversidade filogenética e funcional (Cianciaruso et<br />
al., 2009; Gastauer & Meira-Neto, 2013). Aqui,<br />
iremos nos concentrar nos efeitos da perda de habitat<br />
sobre a diversidade funcional em remanescente de<br />
floresta tropical de elevada diversidade, evidenciando<br />
que esta abordagem se mostra adequada para<br />
entendermos mais profundamente os efeitos da<br />
fragmentação (p. ex. efeitos de borda).<br />
Contrastando a diversidade taxonômica e<br />
funcional<br />
A diversidade taxonômica usualmente é<br />
avaliada utilizando-se índices sintéticos de<br />
diversidade (p. ex. Shannon-Wiener e Simpson<br />
[Maurer & Mcgill, 2010]), através da combinação<br />
da riqueza de espécies presentes em uma<br />
amostragem, como a uniformidade da distribuição<br />
do número de indivíduos entre as espécies<br />
(Colwell, 2009). Apesar de ambos os índices<br />
sintéticos ponderarem de forma diferenciada, as<br />
espécies raras e a equabilidade, isoladamente,<br />
caracterizam inadequadamente a biodiversidade<br />
(Magurran, 2004). Outra opção para a avaliação<br />
da biodiversidade é considerar o papel de cada<br />
espécie nos ecossistemas e suas respostas às<br />
variações ambientais (Petchey & Gaston, 2006).<br />
Hipoteticamente, imaginemos duas comunidades<br />
de espécies arbóreas de Floresta Ombrófila<br />
Densa de Terras Baixas (Floresta de Tabuleiro)<br />
na Reserva Natural Vale, cada qual com cinco<br />
espécies arbóreas e dois indivíduos por espécie. Na<br />
primeira floresta, temos Abarema cochliacarpos,<br />
Actinostemon concolor, Allagoptera caudescens,<br />
Annona dolabripetala e Astronium concinnum e na<br />
segunda floresta temos cinco espécies pertencente<br />
ao gênero Inga spp. Se a riqueza e a uniformidade,<br />
isto é, distribuição da abundância de indivíduos por<br />
espécies, fossem as mesmas, o índice sintético de<br />
diversidade também seria o mesmo para ambas as<br />
comunidades. Porém, se levarmos em consideração<br />
a diversidade biológica em termos de morfologia dos<br />
frutos, capacidade de dispersão, disponibilidade de<br />
recursos para fauna e traços da história evolutiva,<br />
espera-se que na primeira comunidade a diversidade<br />
seja maior. Desta forma, estudos sobre diversidade<br />
funcional permitem o entendimento do papel das<br />
populações e das comunidades de espécies no<br />
funcionamento ecossistêmico (Mcgill et al., 2006).<br />
De maneira geral, a ecologia funcional se<br />
embasa na utilização de caracteres (p. ex.<br />
morfológicos, fisiológicos e fenológicos; Violle et<br />
al., 2007). Portanto, a seleção dos atributos é um<br />
ponto chave em estudos de diversidade funcional.<br />
A importância da seleção dos atributos funcionais<br />
reside no fato de que os atributos selecionados<br />
permitirão uma avaliação mais precisa do papel<br />
ecológico das espécies em diferentes habitats<br />
do que somente a sua identidade taxonômica<br />
(Magurran, 2004; Mcgill et al., 2006; Petchey<br />
& Gaston, 2006). Assim, os atributos funcionais<br />
devem ser selecionados de acordo com a hipótese<br />
que esteja em teste (Cornelissen et al., 2003;<br />
Pérez-Harguindeguy et al., 2013), levando<br />
em consideração as dimensões do estudo e a<br />
viabilidade de se obter determinados atributos<br />
funcionais (Magnago et al., 2014).<br />
A Reserva Natural Vale (RNV) e Reserva<br />
Biológica de Sooretama apresentam uma elevada<br />
relevância para conservação, uma vez que seus<br />
tamanhos estão acima dos 20.000 hectares.<br />
Fragmentos com desse porte representam apenas<br />
0,08% dos remanescentes de Floresta Atlântica<br />
existentes no Brasil (Ribeiro et al., 2009). Essas<br />
duas reservas ainda são reconhecidamente<br />
detentoras de uma elevada diversidade de<br />
espécies vegetais e animais (Peixoto & Silva,<br />
1997; Chiarello et al.,1999; Marsden et al., 2001;<br />
Jesus & Rolim, 2005; Magnago et al., 2014).<br />
Partes dos dados apresentados nesse capítulo<br />
foram analisados em nível de paisagem e<br />
publicados no artigo de Magnago et al. (2014),<br />
onde abordamos os impactos na funcionalidade<br />
de espécies arbóreas em função da redução do<br />
tamanho dos fragmentos e da criação do habitat<br />
de borda para uma paisagem localizada no norte<br />
do Espírito Santo. Neste capítulo, apresentamos<br />
um novo enfoque, analisando apenas como o<br />
efeito de borda em grandes reservas, o que nos<br />
permite entender o papel funcional destes dois<br />
grandes blocos florestais na paisagem na qual elas<br />
estão inseridas e também mostrar como o efeito<br />
borda pode modificar a funcionalidades desses