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RESERVA NATURAL VALE

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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA <strong>RESERVA</strong> <strong>NATURAL</strong> <strong>VALE</strong><br />

ºC para 2050. Para o período de 2080 a 2100, o<br />

aumento projetado é de 2,6-4,8 ºC. Os cientistas<br />

concordam também que um aumento superior<br />

a 2,0 ºC na temperatura média do planeta seria<br />

suficiente para gerar efeitos negativos sobre a base<br />

da vida e do bem-estar no planeta.<br />

A crise ambiental resulta da sinergia e das<br />

interações entre a crise climática e a crise da<br />

biodiversidade. A inter-relação entre as duas<br />

crises talvez seja mais evidente na América Latina,<br />

onde a conversão de ecossistemas naturais é a<br />

principal causa da perda de biodiversidade e, ao<br />

mesmo tempo, é o principal vetor de mudanças<br />

climáticas (Magrin et al., 2014). Como exemplo<br />

do que se projeta em termos de panorama futuro<br />

das sinergias entre a crise da biodiversidade e da<br />

crise climática, alguns números e estimativas para<br />

a América Latina são contundentes: o turnover<br />

(ou taxa de rotatividade ou troca) de espécies de<br />

vertebrados até 2100 será de cerca de 90% em<br />

montanhas na América Central e nos Andes (Lawler<br />

et al., 2009); no Brasil, a distribuição de alguns<br />

grupos de aves e de plantas será deslocada para o<br />

sul, onde existe uma menor cobertura de habitats<br />

naturais; o branqueamento de corais ocorrerá com<br />

cada vez maior frequência e intensidade na América<br />

Central e, em menor proporção, na costa brasileira<br />

(Magrin et al., 2014).<br />

OS DESAFIOS DA CONSERVAÇÃO NO BRASIL<br />

E O CASO DA MATA ATLÂNTICA<br />

O principal desafio para a conservação da<br />

biodiversidade no Brasil é o de se tornar peça central<br />

ao processo de desenvolvimento do país e não um<br />

componente marginal ou, como é muitas vezes<br />

visto, antagônico. O fato de o Brasil ser o país mais<br />

megadiverso do planeta, e ao mesmo tempo possuir<br />

uma economia forte, lhe confere uma oportunidade<br />

ímpar de se tornar um modelo de desenvolvimento<br />

sustentável para o mundo. Entretanto, o país parece<br />

hesitar em seguir esse caminho, ou no mínimo dá<br />

sinais contraditórios. Se por um lado o Brasil tem,<br />

proporcionalmente ao seu território, uma das<br />

mais extensas coberturas de áreas protegidas por<br />

unidades de conservação e terras indígenas, por<br />

outro assistiu nos últimos sete anos à perda de<br />

44.100 km 2 de áreas sob proteção, especialmente<br />

para a realização de empreendimentos diversos. Se<br />

por um lado possui uma legislação e um sistema de<br />

incentivo para promover uma agricultura de baixo<br />

carbono, por outro segue sofrendo com altas taxas<br />

de desmatamento ilegal. Se por um lado avançou<br />

no conhecimento e recuperação de espécies e<br />

ecossistemas ameaçados, por outro ainda é tímido<br />

na expansão científica e tecnológica para fontes<br />

alternativas de energia. Essa hesitação é apontada<br />

por várias publicações recentes (Scarano et al.,<br />

2012; Bernard et al., 2014; Ferreira et al., 2014;<br />

Loyola, 2014) e contrasta com a clara liderança<br />

exercida pelo país até alguns anos atrás no processo<br />

das convenções das Nações Unidas que surgiram a<br />

partir do Rio 92 (e.g., Mittermeier et al., 2010).<br />

Ainda, harmonizar conservação da natureza<br />

e desenvolvimento socioeconômico demandaria<br />

uma visão integrada do sistema de proteção, para<br />

além do sistema de unidades de conservação. As<br />

áreas protegidas dentro de propriedades privadas<br />

e produtivas, garantidas pelo Código Florestal, e<br />

todo o território cuja proteção é promovida por<br />

mecanismos de incentivos como pagamentos de<br />

serviços ambientais (tal qual o Programa Bolsa<br />

Verde, como exemplo em escala nacional – ver<br />

MMA, 2013), deveriam receber um tratamento<br />

integrado ao do sistema nacional de unidades de<br />

conservação e terras indígenas. As unidades de<br />

conservação e terras indígenas guardam também<br />

um enorme potencial de turismo sustentável até<br />

hoje não realizado, além de não serem devidamente<br />

recompensadas pelos serviços ambientais que<br />

asseguram para cidades e para a economia do<br />

país (e.g., Medeiros et al., 2011). Além disso, há<br />

um marcado déficit de proteção em biomas não<br />

florestais, em comparação a biomas florestais como<br />

o amazônico (Fonseca et al., 2010; Veldman et al.,<br />

2015).<br />

Apesar desse aclamado déficit de proteção em<br />

biomas não florestais no Brasil, a Mata Atlântica é o<br />

bioma que mais perdeu cobertura natural desde o<br />

descobrimento do país. Apenas 11,7% da cobertura<br />

original do bioma persistem, com diferentes graus<br />

de conservação (Ribeiro et al., 2009). Ainda mais<br />

grave é o fato de que a maior parte do que restou<br />

da Mata Atlântica está agrupada em pequenos<br />

fragmentos florestais: 83,4% dos quais possuem<br />

50 hectares ou menos (Ribeiro et al., 2011). Tais<br />

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