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RESERVA NATURAL VALE

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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA <strong>RESERVA</strong> <strong>NATURAL</strong> <strong>VALE</strong><br />

geralmente ocupando territórios extensos. Por<br />

causa da sua carne, foram intensamente caçados<br />

por toda Mata Atlântica e desapareceram daquelas<br />

áreas onde o desmatamento foi intenso ou de<br />

fragmentos onde houve modificações importantes<br />

na estrutura da vegetação. O macuco (Tinamus<br />

solitarius) é a maior espécie da Família Tinamidae<br />

na Mata Atlântica e foi considerado abundante<br />

em toda a sua ampla distribuição neste bioma,<br />

sendo encontrado antigamente desde o estado de<br />

Pernambuco até a Argentina e Paraguai (Amaral &<br />

Silveira, 2004). Hoje, extinto na imensa maioria das<br />

localidades, pode ser visto com relativa facilidade<br />

em algumas UCs localizadas em matas de altitude<br />

no estado de São Paulo (Parque Estadual Intervales,<br />

por exemplo), mas praticamente desapareceu<br />

das matas de baixada em todo o Brasil (Amaral &<br />

Silveira, 2004). Em situação parecida encontra-se<br />

o jaó-do-sul (Crypturellus noctivagus noctivagus),<br />

que consta na lista nacional de espécies ameaçadas<br />

e que tem na RNV um dos seus últimos redutos,<br />

motivo pela qual a RNV é especialmente importante<br />

para a conservação destas espécies, visto que é<br />

uma das únicas localidades onde estas aves podem<br />

ainda ser registradas nas matas de baixada.<br />

Certamente, a ave mais emblemática hoje<br />

vivendo na RNV e que ajudou a tornar esta<br />

reserva mundialmente famosa e reconhecida para<br />

a conservação das aves da Mata Atlântica é o<br />

mutum-do-sudeste (Crax blumenbachii; Figura<br />

2). Este grande mutum (a maior espécie da Família<br />

Cracidae vivendo na Mata Atlântica) foi descrito<br />

pelo naturalista Spix, em 1825, e batizado em<br />

homenagem ao seu orientador, Johann Friedrich<br />

Blumenbach, naturalista e antropólogo alemão. Os<br />

exemplares que foram utilizados para a descrição<br />

deste mutum foram coletados ainda bem próximos<br />

da cidade do Rio de Janeiro, o que indica como a<br />

espécie era facilmente obtida naquela época. Este<br />

mutum distribuía-se desde o sul da Bahia até o<br />

centro-sul do Rio de Janeiro, chegando também até<br />

o leste de Minas Gerais, sempre em áreas de floresta<br />

de baixada ou tabuleiros (Silveira et al., 2005). Os<br />

maiores indivíduos podiam chegar a pesar cerca de<br />

4,5 kg, o que fazia desta ave uma cobiçada peça<br />

de caça. Esta ave serviu de alimento para todos<br />

os naturalistas que passaram pelo seu hábitat<br />

durante o século XIX e não era incomum encontrar<br />

acampamentos de índios (incluindo os temidos<br />

botocudos) repletos de penas e restos destas aves,<br />

conforme apontado diversas vezes pelo Príncipe<br />

de Wied-Neuwied (Wied, 1820). Contudo, o<br />

Figura 2: Macho do mutum-do-sudeste. A conservação desta espécie endêmica da Mata Atlântica brasileira e<br />

extremamente ameaçada de extinção depende fundamentalmente da preservação das florestas da região na qual se<br />

insere a RNV, onde são vistas as maiores populações desta espécie. Foto: Gustavo Magnago.<br />

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