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RESERVA NATURAL VALE

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ROLIM ET AL.<br />

FLORESTA OMBRÓFILA OU ESTACIONAL?<br />

armazenamento de água no solo raramente diminui<br />

abaixo de 100 mm para a CAD (capacidade de água<br />

disponível) utilizada igual a 200 mm, o que faz com que<br />

os déficits sejam pequenos. Assim, o armazenamento<br />

de água no solo deve ter papel fundamental para<br />

suprir as árvores em períodos prolongados de seca em<br />

Linhares. Esta estratégia já é amplamente difundida e<br />

árvores na Amazônia podem buscar água em períodos<br />

secos, há mais de 8 m de profundidade, através da<br />

expansão das raízes (Nepstad et al., 1994).<br />

Borchert & Pockman (2005) citam que<br />

existem espécies que evitam a seca e outras que<br />

são resistentes à seca, cada tipo com diferentes<br />

estratégias fisiológicas. Concluem que a anatomia<br />

da madeira pode ser um importante fator na<br />

adaptação à seca. Em algumas espécies que evitam<br />

a seca, por exemplo, existe um extenso parênquima<br />

ao redor do xilema, que permite o armazenamento<br />

intracelular de água.<br />

Outra estratégia importante é a denominada<br />

redistribuição hidráulica (Dawson, 1996;<br />

Burguess et al., 1998; Oliveira et al., 2005), na<br />

qual a água pode se mover através das raízes,<br />

das partes mais úmidas e profundas do solo, para<br />

as partes mais superficiais, que secam primeiro.<br />

Pode ser citado ainda que sob condições naturais<br />

as raízes são o principal órgão para absorção<br />

de água (Breazeale et al., 1950); entretanto,<br />

sob condições de seca e alta umidade relativa,<br />

as folhas podem contribuir na absorção de<br />

água da atmosfera (Burgess & Dawson, 2004).<br />

Considerando a alta umidade relativa encontrada<br />

em Linhares, de 82 a 89% ao longo do ano,<br />

esta hipótese pode ter um peso importante na<br />

manutenção da perenidade das árvores nesta<br />

região.<br />

Finalmente, ressaltamos que pesquisas<br />

paleoecológicas recentes indicam que o clima na<br />

região de Linhares era mais úmido, equivalente ao de<br />

uma floresta ombrófila, entre 4 e 7 mil anos atrás, com<br />

presença marcante de Cyatheaceae e Arecaceae, as<br />

quais diminuíram em abundância de 4 mil anos atrás<br />

até o presente (Buso Jr. et al., 2013). Nesse período<br />

o inverno se tornou mais seco e o clima mais sazonal<br />

em razão do deslocamento da zona de convergência<br />

intertropical mais para o norte, na posição em que<br />

se encontra hoje (Ledru et al., 1998; Buso Jr. et al.,<br />

2013; Lorente et al., 2015).<br />

ANÁLISE DE DADOS FENOLÓGICOS NA<br />

FLORESTA DE TABULEIRO<br />

As árvores da floresta da Reserva de Linhares<br />

mostram um grau de caducifolia maior do que<br />

aquele de uma floresta ombrófila, mas menor do<br />

que uma floresta estacional semidecidual. Em estudo<br />

fenológico realizado com 41 espécies de árvores do<br />

dossel da floresta de Linhares, entre 1982 e 1992<br />

(Engel, 2001), 43,9% delas foram classificadas como<br />

brevidecíduas e 12,2% como caducifólias (Tabela<br />

1), ou seja, pouco mais da metade das espécies<br />

apresentaram perda de folhas durante o período seco.<br />

De acordo com a classificação de Longman & Jeník<br />

(1987), a diferença entre espécies brevidecíduas<br />

e caducifólias (ou decíduas) está no fato de que<br />

as primeiras perdem as folhas no início da estação<br />

chuvosa, junto com a brotação, ficando desfolhadas<br />

por até uma semana. As últimas perdem as folhas no<br />

fim da estação seca e brotam na chuvosa, ficando<br />

desfolhadas por várias semanas.<br />

Em Linhares, a época de máxima queda de folhas<br />

ocorreu no fim da estação seca e início da estação<br />

transicional para chuvosa (Figura 5), o que concorda<br />

com os resultados de Mori et al. (1982) para o sul<br />

da Bahia. Em média, cerca de 30% das espécies e<br />

15% dos indivíduos mostraram queda total ou quase<br />

total de folhas na transição entre as estações seca<br />

e chuvosa, de setembro a outubro (Figura 5). Uma<br />

proporção semelhante foi encontrada com folhas<br />

novas na estação chuvosa, cerca de dois meses após<br />

o máximo de queda de folhas (Figura 5). A maior<br />

parte dos estudos realizados em florestas tropicais<br />

úmidas (que incluíram Floresta Ombrófila Densa<br />

Sub-montana, Montana e Alto-montana) mostrou<br />

que a máxima queda de folhas ocorre no período<br />

seco (Alencar et al., 1979; Carabias-Lillo & Guevara-<br />

Sada, 1985; Morellato, 1992; Pires-O’Brien, 1993).<br />

Em outras florestas atlânticas com distribuição<br />

de chuvas mais uniforme, a queda de folhas foi<br />

constante ao longo do ano (Talora & Morellato,<br />

2000) ou predominou na estação chuvosa (Jackson,<br />

1978). Em florestas tropicais estacionais deciduais<br />

e semideciduais, a queda de folhas ocorreu no<br />

início e no meio da estação seca, respectivamente<br />

(Monasterio & Sarmiento, 1976; Martins, 1982;<br />

Morellato, 1991; 1992; Fonseca, 1998).<br />

A atividade de mudança foliar das espécies<br />

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