RESERVA NATURAL VALE
livrofloresta
livrofloresta
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA <strong>RESERVA</strong> <strong>NATURAL</strong> <strong>VALE</strong><br />
e os queixadas apresentam preferência por áreas<br />
de florestas tropicais úmidas e densas (Nowak,<br />
1999; Lee & Peres, 2008). Desbiez et al. (2009),<br />
por exemplo, demonstraram que no Pantanal os<br />
queixadas selecionam principalmente as florestas<br />
e suas bordas, com uma menor frequência de uso<br />
do cerrado. Além disso, os queixadas ocorrem<br />
sempre próximo a fontes de água (Nowak, 1999;<br />
Lee & Peres, 2008), sendo os recursos hídricos<br />
considerados temporários e escassos em algumas<br />
regiões da RNV. Por formarem grupos maiores do<br />
que os catetos e ocuparem áreas de vida que podem<br />
variar de 22 a 109 km², além de sua preferência<br />
por habitat florestados (Keuroghlian et al., 2004),<br />
os queixadas podem ser considerados indicadores<br />
de qualidade ambiental.<br />
As espécies do gênero Mazama apresentaram<br />
densidade e tamanho populacional compatíveis<br />
com o mínimo necessário para a conservação<br />
destas espécies em longo prazo (Duarte, 1996).<br />
Entretanto, Mazama gouazoubira ocorreu em<br />
densidade quase duas vezes maior do que M.<br />
americana, o que pode ser explicado pelo fato<br />
de esta ser a espécie mais abundante dentre os<br />
veados com ampla distribuição no Brasil (Duarte,<br />
1996). Estudos com diferentes metodologias<br />
também encontraram densidades altas para M.<br />
gouazoubira, sendo 0,03 indivíduo/ha no Pantanal<br />
(Schaller, 1983) e 0,1 indivíduo/ha na Amazônia<br />
(Bodmer, 1989). Estimativas de densidade para<br />
M. americana são mais escassas, havendo registro<br />
de 0,002 indivíduo/ ha no Pantanal (Desbiez et al.,<br />
2010).<br />
Tapirus terrestris foi a espécie que teve os<br />
menores valores de abundância e densidade<br />
populacional estimados para a RNV. A anta é<br />
considerada o maior mamífero terrestre ocorrente<br />
no Brasil, apresentando um pequeno potencial<br />
reprodutivo, longo período de gestação e uma<br />
ampla área de vida (Eisenberg & Redford, 1999).<br />
Esses aspectos biológicos da espécie resultam<br />
em baixa densidade (Medici, 2010), sendo<br />
relativamente vulnerável a extinções locais em<br />
virtude de variações demográficas, ambientais<br />
e perdas de diversidade genética (Medici et al.,<br />
2007). Medici (2010) estimou para a anta uma<br />
população de aproximadamente 130 indivíduos<br />
no Parque Estadual Morro do Diabo (PEMD), em<br />
São Paulo, o que seria aproximadamente seis vezes<br />
menor do que o valor estimado para essa espécie<br />
no presente estudo.<br />
A única espécie da Ordem Carnivora para a<br />
qual foram obtidos dados suficientes para gerar<br />
estimativas acuradas de abundância e densidade foi<br />
N. nasua, provavelmente porque é a única espécie<br />
desta ordem que forma bandos na RNV e também<br />
por ser mais abundante (Russel, 1996), facilitando<br />
sua visualização. Esta foi a espécie não arborícola<br />
que apresentou a maior distância de observação<br />
em relação ao centro do transecto. Os bandos<br />
de quatis geralmente são grandes, apresentando<br />
variações ao longo do ano, antes e depois do<br />
período reprodutivo, podendo chegar a até 30<br />
indivíduos, em média, pós-período reprodutivo<br />
(Russel, 1996). A densidade estimada para o quati<br />
no presente estudo foi similar a valores encontrados<br />
em outras áreas ao longo da distribuição geográfica<br />
do gênero. Hass & Valenzuela (2002) encontraram<br />
um valor em torno de 0,10 indivíduo/ha para Nasua<br />
narica no Arizona, e Schaller (1983) descreve que<br />
na fazenda Acurizal, no Pantanal Mato-Grossense,<br />
N. nasua foi o carnívoro com maior densidade<br />
registrada, apresentando cerca de 0,06 indivíduo/<br />
ha na floresta decidual e de 0,13 indivíduo/ha na<br />
mata de galeria. Porém, Schaller (1983) utilizou<br />
o método de transecto por faixas amostrais, o<br />
que deixa de considerar os erros de detecção dos<br />
indivíduos, podendo gerar subestimativas. Outros<br />
estudos com quati registraram uma alta densidade<br />
para a espécie, com média de 0,42 indivíduo/ha no<br />
México (Valenzuela, 1998) e 0,33 indivíduo/ha no<br />
Parque do Prosa, no Mato Grosso do Sul (Costa,<br />
2003). Existem indícios de que os quatis aumentam<br />
sua densidade na ausência de predadores de topo<br />
(Terborgh, 1994), o que não seria o caso do<br />
presente estudo, já que a RNV abriga populações<br />
de duas espécies de grandes felinos (onça-pintada,<br />
Panthera onca, e onça-parda, Puma concolor)<br />
(Srbek-Araujo et al., 2014).<br />
Vale ressaltar que o tamanho das populações<br />
varia (flutua) no tempo e em escala local e que valores<br />
de tamanho populacional menores com relação a<br />
estudos anteriores não significam necessariamente<br />
um declínio populacional (Ezard et al., 2009). Além<br />
disso, a existência de diferenças na abundância e na<br />
densidade das espécies entre diferentes localidades<br />
462