RESERVA NATURAL VALE
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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA <strong>RESERVA</strong> <strong>NATURAL</strong> <strong>VALE</strong><br />
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Marsden et al., 2001; Srbek-Araujo & Chiarello,<br />
2006; Srbek-Araujo et al., 2014). A paisagem no<br />
entorno da RNV está constituída por diferentes<br />
tipos de matrizes, principalmente por pastagens e<br />
plantações de eucalipto, mamão e café (Rolim et<br />
al., 2005; Peixoto et al., 2008) e por fragmentos<br />
florestais de diferentes tamanhos, formas e graus<br />
de isolamento. Alguns destes fragmentos possuem<br />
formato linear e estão localizados a diferentes<br />
distâncias da RNV.<br />
Fragmentos lineares conectados reduzem o<br />
isolamento e podem funcionar como estratégias de<br />
conservação em paisagens fragmentadas (Beier &<br />
Noss, 1998; Pardini et al., 2005). É provável que<br />
esses elementos ganhem importância em paisagens<br />
que ainda possuem grandes blocos de vegetação<br />
remanescente, uma vez que, em uma escala de<br />
paisagem, essas grandes florestas podem promover<br />
um spillover de biodiversidade, funcionando<br />
como fonte de espécies e/ou benefícios para<br />
os fragmentos do entorno, aumentando o valor<br />
destes remanescentes menores para a conservação<br />
(Ricketts, 2004; Brudvig et al., 2009). Apesar<br />
disso, o conhecimento sobre o funcionamento de<br />
fragmentos lineares em paisagens que ainda detêm<br />
grandes remanescentes florestais é incipiente,<br />
especialmente em nível nacional e no domínio da<br />
Mata Atlântica, apesar de ser fundamental para<br />
guiar estratégias de conservação.<br />
Nesse sentido, o objetivo geral do presente<br />
estudo foi analisar a composição, a estrutura<br />
e a diversidade da comunidade de pequenos<br />
mamíferos na RNV, em fragmentos lineares<br />
conectados a ela e em fragmentos lineares não<br />
conectados, visando avaliar como a proximidade<br />
com a floresta contínua influencia a comunidade<br />
de pequenos mamíferos nos fragmentos lineares<br />
do entorno. Adicionalmente, também foi avaliado<br />
o efeito da presença de corredores de vegetação<br />
em paisagens que possuem grandes blocos de<br />
remanescente florestal. As hipóteses desse trabalho<br />
foram: I) a distância dos fragmentos lineares<br />
até a floresta contínua influencia a composição<br />
e a estrutura de pequenos mamíferos nestes<br />
fragmentos, sendo a comunidade de pequenos<br />
mamíferos nos fragmentos lineares conectados<br />
mais similar ao interior e à borda da floresta<br />
contínua em comparação com os fragmentos<br />
lineares não conectados; II) a diversidade alfa é<br />
maior na floresta contínua (interior e borda) do<br />
que nos fragmentos lineares; III) a diversidade beta<br />
é maior nos sítios conectados (floresta contínua e<br />
fragmento linear conectado) do que no fragmento<br />
linear não conectado.<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
Desenho Amostral<br />
A amostragem de pequenos mamíferos não<br />
voadores foi realizada em 20 sítios amostrais,<br />
distantes em média 6.917 m, e divididos em quatro<br />
tratamentos: (I) interior de floresta contínua;<br />
(II) borda de floresta contínua; (III) fragmentos<br />
florestais lineares conectados à floresta contínua e<br />
(IV) fragmentos florestais lineares não conectados,<br />
considerando cinco réplicas para cada tratamento<br />
(Figura 1 e Tabela 1). Todos os sítios amostrais<br />
estavam sobre a formação florestal denominada<br />
Floresta Alta, segundo classificação de Peixoto et<br />
al. (2008).<br />
Em cada sítio foi estabelecido um transecto com<br />
100 m de comprimento contendo seis estações de<br />
captura em intervalos de 20 m. Em cada estação<br />
de captura foram dispostas duas armadilhas do tipo<br />
live-trap, sendo uma de arame galvanizado grande<br />
(45 x 16 x 16 cm) ou Sherman grande (45 x 12,5<br />
x 14,5 cm) no solo, alternadas entre as estações<br />
de captura, e uma Sherman de menor tamanho<br />
(25 x 8 x 9 cm) a uma altura aproximada de dois<br />
metros, fixada em galhos de árvores. As armadilhas<br />
foram iscadas diariamente com uma mistura de<br />
banana, amendoim moído, fubá, sardinha ou óleo<br />
de fígado de bacalhau. Foram realizadas 40 noites<br />
de amostragem em cada sítio, distribuídas entre<br />
o período de abril de 2011 a abril de 2012. Em<br />
cada mês, 10 sítios eram selecionados para serem<br />
amostrados, contemplando todos os tratamentos,<br />
a fim de evitar interferência da variação sazonal<br />
e temporal nos resultados obtidos. O esforço<br />
amostral total foi de 9.600 armadilhas-noite.<br />
Todos os indivíduos capturados foram identificados<br />
em nível específico, marcados com uma anilha<br />
metálica numerada (National Band and Tag Inc.)<br />
para posterior identificação e soltos no mesmo<br />
local de captura, seguindo o método de capturamarcação-recaptura.<br />
Pelo menos um indivíduo de cada espécie<br />
capturada foi coletado como material testemunho,