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RESERVA NATURAL VALE

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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA <strong>RESERVA</strong> <strong>NATURAL</strong> <strong>VALE</strong><br />

biodiversidade são equilibrados ou compensados<br />

por medidas como conservação, reabilitação,<br />

restauração e/ou compensação de impactos<br />

residuais que evitam ou minimizam perdas.<br />

Quando os ganhos excedem as perdas, se utiliza o<br />

termo “impacto positivo líquido”. Nos casos onde<br />

compensação é necessária, tais abordagens são<br />

por vezes denominadas “mitigação compensatória”<br />

(BBOP, 2012; Rainey et al., 2015). No inglês, o<br />

termo biodiversity offsets é empregado quando<br />

as etapas prévias da chamada “hierarquia da<br />

mitigação” já tiverem sido cumpridas: evitar,<br />

minimizar e compensar. Quando evitar, minimizar<br />

e compensar não bastarem para neutralizar os<br />

efeitos negativos do projeto sobre a biodiversidade,<br />

então o “offset” deve ser o próximo passo.<br />

Assim, embora na língua portuguesa por vezes<br />

sejam tratados como sinônimos, compensação e<br />

offset são ligeiramente diferentes. Como explicam<br />

Gonçalves et al. (2015), para que uma ação<br />

compensatória se qualifique como “biodiversity<br />

offset”, ela deve demonstrar adicionalidade, isto é,<br />

uma diferença positiva entre o resultado de quando<br />

a ação compensatória é executada em comparação<br />

com o momento anterior à ação. Trata-se, portanto,<br />

de uma ação que assegura balanço positivo e não<br />

simplesmente uma neutralização ou compensação<br />

do impacto. Contudo, muitas vezes ainda é difícil<br />

considerar todas as dimensões da biodiversidade<br />

(estruturais, funcionais, culturais, etc.), quando da<br />

realização desses cálculos.<br />

Como parte ou não de ações de compensação<br />

ou offset, algumas corporações investem na<br />

conservação de ecossistemas naturais. A criação<br />

de reservas privadas tem sido cada vez mais<br />

difundida (Bateman et al., 2015; Kamal et al.,<br />

2015) e novos mecanismos financeiros têm<br />

sido desenhados para incentivar ainda mais a<br />

promoção de tais iniciativas no futuro próximo<br />

(Meißner, 2013). A difusão dessa prática por<br />

diferentes atores do setor privado se dá em<br />

diferentes formatos e começa a demandar uma<br />

taxonomia própria (Kamal et al., 2015).<br />

Um dos campos de pesquisa que se apresenta<br />

particularmente promissor é o de investigar<br />

o impacto da ação do setor privado sobre os<br />

chamados “limites planetários”, ou seja, limites que<br />

se forem ultrapassados o planeta ingressará em<br />

um estado menos propenso ao desenvolvimento<br />

humano (Rockström et al., 2009). Três exemplos<br />

de limites estariam relacionados às mudanças<br />

climáticas, ao ciclo global de nitrogênio e à taxa de<br />

perda da biodiversidade (Whiteman et al., 2013).<br />

Novamente, offsets e áreas de conservação<br />

privadas dialogam diretamente com esses três<br />

limites planetários.<br />

A incorporação aos negócios de valores e<br />

práticas ligados à biodiversidade e serviços<br />

ambientais decorre da óbvia interdependência<br />

entre os dois campos (Houdet et al., 2012).<br />

Nesse sentido, esforços de compensação e<br />

offset, definição de estratégias e planos de<br />

sustentabilidade corporativos e até mesmo o<br />

investimento direto em conservação de áreas<br />

naturais, por vezes tomam por base estudos de<br />

valoração econômica da biodiversidade e serviços<br />

ambientais. Em escala global, o estudo “The<br />

Economics of Ecosystems and Biodiversity in<br />

Business and Enterprise” (TEEB – Bishop, 2012;<br />

Kumar et al., 2013) possui grande relevância,<br />

por chamar a atenção para a importância dos<br />

serviços ecossistêmicos para os negócios e para<br />

as potenciais perdas econômicas decorrentes da<br />

perda da biodiversidade e da degradação desses<br />

serviços. O Brasil foi o primeiro país a realizar tal<br />

estudo em escala nacional (Pavese et al., 2012).<br />

Entretanto, como muitas vezes é o caso em novas<br />

disciplinas científicas, os métodos de valoração<br />

econômica de serviços ambientais também são<br />

alvo de ceticismo e crítica (Ring et al., 2010;<br />

Spangenberg & Settele, 2010).<br />

Para que a reconciliação entre conservação da<br />

natureza e desenvolvimento passe a direcionar<br />

as escolhas de investimentos e as políticas do<br />

país, os impactos de qualquer atividade produtiva<br />

deverão ser ponderados e contabilizados no<br />

processo de decisão, seja do investimento, da<br />

implantação ou da gestão. De fato, a natureza tem<br />

sido habitualmente desconsiderada nas escolhas<br />

econômicas e essa é a principal razão de fundo<br />

para a degradação dos serviços ecossistêmicos<br />

e a perda da biodiversidade. O risco de não se<br />

considerar as consequências associadas à perda<br />

da biodiversidade, com frequência será alto<br />

demais para o próprio negócio (Spangenberg,<br />

2007).<br />

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