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RESERVA NATURAL VALE

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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA <strong>RESERVA</strong> <strong>NATURAL</strong> <strong>VALE</strong><br />

sob influência nebular (Dressler, 1990). Todavia,<br />

na RNV existe um longo período seco (Engel &<br />

Martins, 2005) e, além disso, muitas espécies de<br />

orquídeas ocorrem como epífitas na muçununga e<br />

como terrestres nos campos nativos, ambientes<br />

mais secos, indicando que as 103 espécies da<br />

coleção representam uma alta riqueza mesmo em<br />

ambiente relativamente mais seco.<br />

A elevada riqueza de Myrtaceae na RNV pode ser<br />

constatada quando comparada às demais áreas, já que<br />

congrega próximo do dobro de espécies em relação<br />

à quase totalidade das demais áreas. Esta família é<br />

relacionada entre as mais ricas em espécies arbóreas<br />

no domínio da Floresta Atântica (Mori et al., 1983a;<br />

Mori et al., 1983b; Barros et al., 1991; Thomaz &<br />

Monteiro, 1997; Jesus & Rolim, 2005; Lima et al.,<br />

2011). Outro fato a ser considerado é que Myrtaceae<br />

é também bem representada na Amazônia, como<br />

constatado para a Reserva Ducke, se considerada<br />

toda a flora e não somente espécies arbóreas.<br />

A presença de áreas abertas com sedimento<br />

arenoso na RNV deve ter favorecido o<br />

estabelecimento de representantes de Poaceae e<br />

Asteraceae, que ali ocorrem entre as 10 famílias de<br />

maior riqueza. Estas famílias também apresentam<br />

elevada riqueza em outras regiões que apresentam<br />

este tipo de sedimento, ou ainda em trechos<br />

rochosos, como encontrados na Ilha do Cardoso<br />

(Barros et al., 1991), em Serra Negra (Salimene et<br />

al., 2013) e na Guiana (Clarke et al., 2001).<br />

Embora Bignoniaceae não seja uma das famílias mais<br />

ricas na Floresta Atlântica, destaca-se na RNV, onde<br />

apresenta uma das maiores riquezas já registradas,<br />

com notoriedade para as lianas lenhosas (43 das 62<br />

espécies). Outras famílias ricas em lianas lenhosas na<br />

RNV são Fabaceae, Malpighiaceae e Sapindaceae (37,<br />

32 e 22 espécies, respectivamente). Estas quatro<br />

famílias representam 52% das 255 espécies de<br />

lianas lenhosas da RNV, principalmente nos gêneros<br />

Machaerium (11), Heteropterys (11), Passiflora (9),<br />

Adenocalymma (8), Paullinia (8) e Serjania (8), sendo<br />

uma das áreas mais ricas do neotrópico com este<br />

hábito (Peixoto & Gentry, 1990).<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Os registros botânicos atuais indicam que a<br />

RNV apresenta uma elevada riqueza e endemismo<br />

de angiospermas, entre as áreas mais ricas no<br />

neotrópico, incluindo uma elevada riqueza de<br />

espécies ameaçadas e raras. Trata-se de uma área<br />

de grande relevância para conservação. Novas<br />

coletas botânicas e o tratamento dos materiais<br />

indeterminados devem continuar a aumentar esta<br />

riqueza, mas, no sentido de direcionar futuros<br />

esforços botânicos na região norte do Espírito<br />

Santo, embora não seja foco deste trabalho, vale<br />

um breve comentário sobre a Reserva Biológica de<br />

Sooretama (RBS), adjacente à RNV. Existem muito<br />

poucas coletas botânicas na RBS e a maioria coletada<br />

em áreas de fácil acesso como a Lagoa do Macuco<br />

e ao redor das sedes. Ou seja, uma concentração do<br />

esforço de coleta na área da RNV, em detrimento<br />

da RBS. Um exemplo desta diferença é apontado<br />

por Giaretta et al. (2015), que mostram que 55%<br />

de todos os registros de Myrtaceae em áreas<br />

protegidas do Espírito Santo são provenientes da<br />

RNV, e que sua vizinha RBS, representa apenas 1%<br />

dos registros.<br />

É notório, portanto, a necessidade de maiores<br />

investimentos em coletas botânicas na RBS.<br />

A carência de infraestrutura na RBS e a maior<br />

dificuldade de acesso aos trechos mais remotos,<br />

tornam expedições à RBS menos atrativa ao<br />

pesquisador. Adiciona-se ainda o fato de a RNV<br />

manter o Herbário CVRD bem representativo<br />

da flora do norte do Espírito Santo, além de<br />

infraestrutura de apoio logístico, que torna atrativa<br />

a opção por coletar na RNV. A RNV e a RBS são<br />

igualmente importantes e compartilham muitas<br />

espécies, mas provavelmente a área oeste da RBS<br />

deve apresentar algumas particularidades que a<br />

diferem dos trechos da RNV, pois é uma área mais<br />

distante do oceano e apresenta topografia mais<br />

acidentada, diferente da RNV, onde o relevo é<br />

predominantemente suave ou plano. Desta forma,<br />

considerando a riqueza de espécies e endemismo<br />

desta região, é altamente recomendável que sejam<br />

incentivadas expedições botânicas à RBS.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

Acevedo-Rodríguez, P. 2012. Alatococcus, a new genus<br />

of Sapindaceae from Espirito Santo, Brazil. Phytokeys,<br />

10: 1-5.<br />

Amorim, A.M.; Thomas, W.W.; Carvalho, A.M.V. &<br />

Jardim, J.G. 2008. Floristic of the Una Biological<br />

Reserve, Bahia, Brazil. In The Atlantic Coastal Forests<br />

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