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RESERVA NATURAL VALE

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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA <strong>RESERVA</strong> <strong>NATURAL</strong> <strong>VALE</strong><br />

PERSPECTIVAS FUTURAS PARA<br />

A CONSERVAÇÃO<br />

A importância bioecológica da região de<br />

Linhares e Sooretama para a conservação já era<br />

reconhecida desde o final da década de 1940<br />

(Travassos & Freitas, 1948; Aguirre, 1951),<br />

bem como as ameaças à época, claramente<br />

pontuadas por Travassos (1945): “Atualmente se<br />

faz uma grande devastação nas matas do norte<br />

do Estado. Dada a natureza do solo e escassez<br />

da água, somente acessível nas profundas<br />

ravinas, a destruição das florestas do planalto<br />

transformará esta bela região do nosso País em<br />

um semi deserto sujeito ao flagelo das secas e<br />

das enxurradas violentas. Infelizmente ainda<br />

não compreendemos que se possa explorar uma<br />

floresta sem destruí-la inteiramente, reduzindo a<br />

cinzas o que não for muito lucrativo transportar.<br />

O mau hábito de se reduzir a pastos pobres,<br />

pela ação brutal do fogo, extensas zonas do<br />

País está cada vez mais prejudicando o clima e<br />

reduzindo o rendimento do solo em função da<br />

área ocupada. Se não se cuidar, quanto antes,<br />

de impedir o arrasamento total do revestimento<br />

florestal do norte do Espírito Santo, em 50 anos<br />

o teremos transformado em um novo nordeste<br />

com as calamidades das secas e de enchentes<br />

das baixadas pelo rápido escoamento das águas.<br />

As profundas ravinas no fundo das quais correm<br />

diminutos córregos demonstram o violento efeito<br />

das águas nas épocas anteriores a formação<br />

do revestimento florestal, produto paciente do<br />

trabalho milenar da natureza, e que o homem<br />

procura, com auxílio do fogo, destruir em algumas<br />

décadas”.<br />

Infelizmente, as sombrias previsões<br />

profeticamente listadas por Travassos se<br />

concretizaram no norte do estado e a cobertura<br />

florestal remanescente no Bloco Linhares-<br />

Sooretama mostra a importância da região para<br />

manutenção da diversidade e conservação de<br />

anfíbios, corroborada pelo fornecimento de<br />

material utilizado na descrição de várias espécies<br />

de anfíbios na RNV e em seu entorno, desde<br />

1980.<br />

Atualmente, mesmo as espécies<br />

aparentemente protegidas no interior da<br />

floresta estão suscetíveis aos efeitos da<br />

antropização ocorrida em todo o entorno do<br />

Bloco Linhares-Sooretama. Neste sentido,<br />

ressalta-se que o efeito da fragmentação dos<br />

ambientes sobre a riqueza de espécies de<br />

anfíbios em diferentes áreas de Mata Atlântica<br />

é mais grave para aquelas que dependem da<br />

água para reprodução – a maioria das espécies<br />

–, as quais são mais sensíveis à fragmentação<br />

em função dos riscos associados à maior<br />

distância entre os fragmentos e os corpos<br />

d’água (Becker et al., 2007). Além disso, os<br />

córregos e os rios que umidificam o Bloco<br />

Linhares-Sooretama estão represados em<br />

sua maioria e, cada vez mais, disputados em<br />

suas porções a montante do grande bloco<br />

florestal para irrigação de lavouras, criação de<br />

rebanhos e aquicultura (Sarmento-Soares &<br />

Martins-Pinheiro, 2014). Um risco adicional<br />

é a contaminação por defensivos agrícolas e<br />

fertilizantes, os quais são utilizados em culturas<br />

no entorno da RNV e da RBS. Se carreados para<br />

os corpos d’água que atravessam estas áreas,<br />

esses químicos podem comprometer, a longo<br />

prazo, os ambientes reprodutivos de várias<br />

espécies de anfíbios. Desta forma, o novo<br />

desafio para a conservação dos anfíbios nesse<br />

grande bloco florestal está, portanto, centrado<br />

na gestão e qualidade da água dos córregos<br />

e dos rios que vertem para esse importante<br />

remanescente de Mata Atlântica.<br />

Figura 1: A rãzinha-do-folhiço ou rã-da-mata<br />

(Haddadus binotatus) habita o solo da mata de tabuleiro.<br />

Vive na serapilheira onde deposita seus ovos que se<br />

desenvolvem de forma direta. Foto: J. L. Gasparini.<br />

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