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RESERVA NATURAL VALE

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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA <strong>RESERVA</strong> <strong>NATURAL</strong> <strong>VALE</strong><br />

consumo e dos interesses que movem o mercado,<br />

culminaram no surgimento de 35 hotspots globais<br />

de biodiversidade, ou seja, locais com grande<br />

diversidade de espécies, altas taxas de endemismo<br />

e elevada proporção de habitats degradados<br />

(Mittermeier et al., 2011). O Brasil possui dois<br />

hotspots, a Mata Atlântica (onde a Reserva Natural<br />

Vale, tema desse livro, se insere) e o Cerrado.<br />

Paralelamente, o modelo de desenvolvimento<br />

tradicional hoje ameaça grandes extensões de<br />

cobertura natural do planeta, percebidas como<br />

fronteiras de expansão econômica. No Brasil,<br />

a Amazônia seja talvez o maior exemplo dessa<br />

segunda categoria (Nepstad et al., 2009; Soares-<br />

Filho et al., 2010).<br />

O reconhecimento que o modelo de<br />

desenvolvimento necessita de uma mudança<br />

de paradigma se tornou explícito globalmente<br />

na Conferência das Nações Unidas para o<br />

Desenvolvimento Sustentável, ou Rio+20, realizada<br />

em 2012 no Rio de Janeiro, mas ainda existe uma<br />

grande lacuna entre discurso e prática (Scarano<br />

et al., 2012). Apesar de todos os compromissos<br />

globais que surgiram 20 anos antes, na conferência<br />

das Nações Unidas conhecida como Rio 92,<br />

governos têm fracassado em garantir práticas mais<br />

sustentáveis em seus países e emissão de carbono,<br />

degradação ambiental e pobreza persistem em<br />

taxas alarmantes. Já o setor privado - que responde<br />

pela maior parte dos produtos que a sociedade<br />

consome e gera 60% do Produto Interno Bruto<br />

do planeta (Sukhdev, 2012) – possui grande<br />

“pegada” ambiental, mas começa a reconhecer a<br />

necessidade de práticas mais sustentáveis. Embora<br />

até aqui a sociedade tenha fracassado em alcançar<br />

metas de sustentabilidade, no Rio+20 se começou<br />

a desenhar os “Objetivos de Desenvolvimento<br />

Sustentável”, que foram anunciados pela ONU em<br />

setembro de 2015. Duas prioridades serão centrais<br />

aos vários objetivos: proteger os sistemas naturais<br />

que asseguram a vida na Terra e reduzir a pobreza<br />

(Griggs et al., 2013).<br />

A NECESSIDADE DE ADAPTAÇÃO<br />

Conciliar a conservação da natureza com a<br />

redução de pobreza implica uma mudança no<br />

paradigma de desenvolvimento, que até aqui se<br />

deu em grande parte com base em degradação e<br />

uso não sustentável de recursos naturais e resultou<br />

em distribuição desigual de benefícios (Roe & Elliott<br />

2010). Cientistas e lideranças políticas globais<br />

reconhecem ser precisamente a combinação entre<br />

conservação da natureza e redução de pobreza que<br />

será necessária para adaptar a sociedade ao novo<br />

quadro climático que vem se desenhando, uma<br />

vez que a) as pessoas mais vulneráveis aos efeitos<br />

perversos das mudanças climáticas são os pobres;<br />

e b) as localidades mais vulneráveis aos efeitos<br />

negativos das mudanças climáticas são as que menos<br />

possuem recursos naturais renováveis disponíveis<br />

(Fisher et al., 2014; Magrin et al., 2014). Uma vez<br />

que, mesmo em um cenário otimista de redução<br />

imediata e significativa de emissão de gases do efeito<br />

estufa, até 2100 a sociedade seguiria sentindo os<br />

efeitos do aumento de temperatura no planeta,<br />

foi ultrapassado o ponto até o qual a mitigação<br />

das emissões seria suficiente para garantir o bemestar<br />

humano. Como afirmaram os cientistas do<br />

Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas<br />

(IPCC, em inglês), cujos volumes foram publicados<br />

entre setembro de 2013 e abril de 2014, entramos<br />

na “Era da Adaptação” na qual necessitamos, como<br />

sociedade, nos adaptar às mudanças climáticas já<br />

em curso (IPCC, 2014).<br />

Muitas vezes, quando se fala em adaptação,<br />

se imagina grandes obras de infraestrutura –<br />

diques para conter elevação do nível do mar,<br />

obras de contenção de encostas, transposição<br />

de rios, dessalinização, etc. Intervenções nessa<br />

escala, no âmbito da infraestrutura, são de alto<br />

custo e em geral visam recompor ou superar uma<br />

limitação imposta pelos recursos naturais (em<br />

geral, decorrentes da ausência destes). No entanto,<br />

tanto o IPCC como o PBMC (Painel Brasileiro de<br />

Mudanças Climáticas) recentemente enfatizaram a<br />

importância de outro tipo de adaptação, que será<br />

particularmente relevante para a América Latina<br />

e o Brasil: a adaptação baseada em ecossistemas<br />

(Magrin et al., 2014; Souza-Filho et al., 2014).<br />

Esse é o nome dado ao conjunto de práticas<br />

multissetoriais, multiescalares e que são baseadas<br />

na premissa de que serviços ecossistêmicos<br />

reduzem a vulnerabilidade de sociedades às<br />

mudanças climáticas (Vignola et al., 2009). A<br />

adaptação baseada em ecossistemas inclui ações<br />

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