05.02.2017 Views

RESERVA NATURAL VALE

livrofloresta

livrofloresta

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

SRBEK-ARAUJO & KIERULFF<br />

MAMÍFEROS: GRUPOS FUNCIONAIS<br />

os pares de espécies que apresentaram forte<br />

sobreposição para todos os caracteres analisados<br />

no presente estudo, há outros atributos que podem<br />

contribuir para a caracterização do nicho efetivo de<br />

cada espécie, como, por exemplo, o detalhamento<br />

no uso e partilha dos recursos alimentares ou<br />

aspectos comportamentais e sociais, reforçando a<br />

importância da manutenção de todos os elementos<br />

que compõem as comunidades biológicas. Assim,<br />

quanto mais detalhadas forem as informações sobre<br />

cada espécie, maior se tornará a diferenciação e<br />

menor será a sobreposição/redundância entre os<br />

táxons analisados em uma comunidade. Entretanto,<br />

estas informações nem sempre estão disponíveis<br />

para a maioria das espécies.<br />

Os maiores valores de diversidade funcional<br />

registrados para mamíferos de médio e grande porte<br />

na Mata Atlântica estão relacionados a áreas com<br />

grande cobertura florestal, maior heterogeneidade<br />

ambiental e baixos níveis de perturbação antrópica<br />

(Magioli et al., 2015), a exemplo do Bloco Linhares-<br />

Sooretama. Esses grandes remanescentes são<br />

considerados fundamentais para a manutenção dos<br />

serviços ecossistêmicos prestados pelas espécies<br />

de maior porte e para a conservação de mamíferos,<br />

funcionando como áreas de referência da função<br />

ecológica das comunidades de médios e grandes<br />

mamíferos em nível de bioma (Magioli et al., 2015).<br />

Principais Ameaças<br />

A diversidade funcional influencia os processos,<br />

a dinâmica e a estabilidade dos ecossistemas,<br />

podendo ser empregada como uma ferramenta<br />

para prever as consequências funcionais das<br />

alterações ambientais causadas pelo homem<br />

(Petchey & Gaston, 2006). Assim, a partir da<br />

análise da diversidade funcional é possível, por<br />

exemplo, avaliar de forma mais acurada quais<br />

serão as consequências da extinção de espécies<br />

(Petchey & Gaston, 2006) e estimar as perdas que<br />

uma comunidade pode suportar antes que funções<br />

importantes sejam completamente perdidas<br />

(Cianciaruso et al., 2009).<br />

Os mamíferos de médio e grande porte são<br />

especialmente sensíveis à perda e fragmentação de<br />

hábitat, sendo as consequências destas ameaças<br />

agravadas por efeitos sinérgicos com outros fatores,<br />

como caça, incêndios florestais e outros impactos<br />

antrópicos sobre populações isoladas (Canale et al.,<br />

2012). A caça, por si só, pode ser considerada uma<br />

das principais ameaças à conservação de mamíferos<br />

de médio e grande porte, acarretando alterações<br />

na abundância das populações e na biomassa das<br />

comunidades, o que pode culminar com a extinção<br />

local dos táxons mais afetados (p. ex. Chiarello,<br />

2000; Lopes & Ferrari, 2000; Galetti et al., 2009).<br />

Entre as espécies de maior porte, os grupos com<br />

maior longevidade, que apresentam baixos índices<br />

de aumento populacional e longo tempo de geração<br />

são ainda mais vulneráveis à extinção quando<br />

submetidos à pressão de caça, a exemplo do catitu,<br />

do queixada, dos veados e da anta (Bodmer et al.,<br />

1997). Embora a RNV conte com um aparato de<br />

vigilância contra caçadores que já foi considerado o<br />

mais eficiente do Espírito Santo (Chiarello, 2000), o<br />

número de eventos anuais relacionados à caça nesta<br />

reserva e na RBS variou entre 150 e quase 200<br />

entre 2003 e 2013 (Kierulff et al., 2014). Assim,<br />

a pressão de caça no Bloco Linhares-Sooretama<br />

pode ser considerada elevada, sendo observada<br />

uma tendência de aumento nos últimos anos. As<br />

espécies mais caçadas na região são a paca, os tatus<br />

e a cutia (Kierulff et al., 2014), havendo também<br />

registros de abate de veados, anta, porcos-do-mato<br />

e capivara, entre outras espécies de mamíferos<br />

(Banco de Dados de Proteção Ecossistêmica RNV e<br />

RBS - Vale, dados não publicados). Embora os felinos<br />

não sejam alvo de caça para alimentação na Mata<br />

Atlântica, eles também podem ser vítimas da ação<br />

de caçadores, principalmente os grandes felinos, os<br />

quais são mortos por serem considerados ameaças<br />

para o homem e/ou para animais domésticos<br />

(Canale et al., 2012). Além disso, a atividade de caça<br />

aumenta a pressão sobre as populações de espécies<br />

consumidas pelos felinos, interferindo também<br />

na disponibilidade de recursos para os predadores<br />

naturais. Se nada for feito para intensificar o combate<br />

à ação de caçadores e aumentar a proteção do Bloco<br />

Linhares-Sooretama, os efeitos da caça poderão<br />

acarretar alterações na comunidade de mamíferos<br />

e, consequentemente, em sua diversidade funcional,<br />

desencadeando mudanças que podem impactar<br />

a flora e outros elementos da fauna locais. Neste<br />

sentido, ressalta-se que apenas a existência de<br />

habitats adequados não garante a sobrevivência<br />

das espécies se a área não for protegida contra a<br />

4 7 5

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!