RESERVA NATURAL VALE
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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA <strong>RESERVA</strong> <strong>NATURAL</strong> <strong>VALE</strong><br />
floresta de Linhares e o médio vale do rio Doce.<br />
Esperamos esclarecer tal questão mais à frente,<br />
no tópico sobre índices de similaridade.<br />
Antes, porém, é pertinente retomar o que já<br />
mencionamos sobre o estudo de Saiter (2015).<br />
Tal estudo descobriu um forte turnover de<br />
espécies arbóreas na latitude 19 o S, o que sugere<br />
maiores afinidades florístico-ecológicas da<br />
floresta de Linhares com florestas semidecíduas<br />
do médio vale do rio Doce e do sul do Espírito<br />
Santo e norte do Rio de Janeiro, nesse último<br />
caso uma região denominada de Falha de Campos<br />
dos Goytacazes por Oliveira-Filho & Fontes,<br />
(2000). Vale ressaltar que, embora Oliveira-<br />
Filho & Fontes, (2000) tenham caracterizado<br />
a Falha de Campos dos Goytacazes como uma<br />
região costeira onde a sazonalidade climática<br />
provoca a interrupção de florestas ombrófilas,<br />
análises posteriores realizadas por Oliveira-<br />
Filho et al. (2005) indicaram não haver uma<br />
forte interrupção na distribuição de espécies<br />
arbóreas na região, uma vez que variações<br />
florísticas acompanhavam o aumento gradual<br />
de umidade no sentido norte.<br />
De fato, Silva & Nascimento (2001) já haviam<br />
constatado a semelhança florística da floresta<br />
de Linhares com a Estação Ecológica Estadual<br />
de Guaxindiba (Mata do Carvão), uma floresta<br />
semidecídua sobre tabuleiros localizada no<br />
município de São Francisco do Itabapoana, norte do<br />
Rio de Janeiro. Segundo esses autores, é marcante<br />
a presença de peroba-amarela (Paratecoma peroba<br />
(Record) Kuhlm.) na Estação Ecológica Estadual de<br />
Guaxindiba, uma espécie arbórea decídua típica<br />
da floresta de Linhares e do vale do rio Doce, mas<br />
que também pode ser encontrada em florestas<br />
estacionais semideciduais do sul do Espírito Santo e<br />
norte do Rio de Janeiro (Figura 1). Acrescentamos<br />
que estudos também já confirmaram a ocorrência<br />
nas florestas semidecíduas do sul do Espírito Santo<br />
(por vezes até do norte do Rio de Janeiro) de<br />
outras espécies outrora consideradas endêmicas<br />
da floresta de Linhares (Silva & Nascimento,<br />
2001; Nascimento & Lima, 2008; Dan et al.,<br />
2010; Curto, 2011; Archanjo et al., 2012; Abreu<br />
et al., 2014), como araçá-miúdo (Campomanesia<br />
espiritosantensis Landrum.), aroeira-da-mata<br />
(Crepidospermum atlanticum Daly), fruta-deplausíveis<br />
para a permanência dessa “herança<br />
pluvial” forem comprovadas. É possível que<br />
espécies com requerimentos fisiológicos<br />
incompatíveis com um clima sazonal tenham<br />
sobrevivido, sobretudo em trechos onde solos<br />
podem se manter úmidos ao longo de todo o<br />
ano, tal como às margens de cursos hídricos.<br />
Ou que a permanência na floresta de Linhares<br />
esteja ligada a uma capacidade de resistir a<br />
curtos períodos de seca de algumas espécies<br />
pluviais. Por outro lado, o tempo transcorrido<br />
desde que o clima passou a ser mais seco pode<br />
não ter sido ainda suficiente para a extinção<br />
local de tais espécies.<br />
AS AFINIDADES FLORÍSTICAS COM O MÉDIO<br />
<strong>VALE</strong> DO RIO DOCE E A FALHA DE CAMPOS<br />
DOS GOYTACAZES<br />
Como mencionado anteriormente, existem<br />
estudos que sugerem uma forte ligação<br />
florística da floresta de Linhares com florestas<br />
do médio vale do rio Doce. Na verdade, isso<br />
foi mostrado primeiramente por Jesus & Rolim<br />
(2005) utilizando dados florísticos conjugados<br />
de Lombardi & Gonçalves (2000) e Lopes et al.<br />
(2002) para a região do Parque Estadual do Rio<br />
Doce e Estação Ecológica de Caratinga, ambos<br />
localizados no leste de Minas Gerais. Essa é<br />
uma região de embasamento Pré-Cambriano<br />
caracterizada por fundos de vales e colinas entre<br />
250-600 metros de altitude e clima estacional<br />
marcado por um período seco que se estende de<br />
maio a setembro e gera déficit hídrico durante<br />
4-5 meses (Cupolillo et al., 2008). No médio<br />
vale do rio Doce desenvolve-se uma floresta<br />
estacional semidecidual submontana de acordo<br />
com a classificação de Veloso et al. (1991).<br />
Saiter et al. (2015), entretanto, relataram<br />
a importância de diferenças climáticas<br />
decorrentes do aumento da distância do oceano<br />
sobre a variação florística ao longo da bacia do<br />
rio Doce. Segundo os autores, o clima na parte<br />
costeira da bacia é menos sazonal do que no<br />
seu interior. Esse contexto acaba alimentando<br />
dúvidas sobre qual diferença florística seria<br />
a mais forte, a existente entre a floresta de<br />
Linhares e a Hileia Baiana, ou aquela entre a<br />
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