RESERVA NATURAL VALE
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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA <strong>RESERVA</strong> <strong>NATURAL</strong> <strong>VALE</strong><br />
hermafroditas (Lloyd & Web, 1977; Faria et al.,<br />
2006).<br />
Sistemas Sexuais e formas de vida<br />
Árvores e arbustos representaram mais de 50%<br />
da estrutura da flora da RNV (Peixoto et al., 2008;<br />
Rolim et al., 2016) e como em outros estudos,<br />
uma relação positiva foi encontrada entre dioecia<br />
e o hábito lenhoso, evidenciada, tanto na análise<br />
multivariada, quanto no teste de associação de<br />
Qui quadrado. Esta associação, em geral, tem sido<br />
explicada como o resultado da forte seleção sobre<br />
a fecundação cruzada em plantas lenhosas de vida<br />
longa (Bawa, 1980; Sakai et al., 1995b) e também<br />
pela associação da dioecia com insetos generalistas,<br />
como polinizadores, além da zoocoria (Bawa, 1980;<br />
Bawa & Opler, 1975; Thomson & Brunet, 1990).<br />
Bawa (1980) e Givnish (1980) discutem<br />
como climas tropicais favorecem o hábito arbóreo<br />
em relação aos climas temperados e às grandes<br />
florestas de coníferas; assim, floras tropicais<br />
abrigam uma grande proporção de espécies<br />
dioicas lenhosas. As bases teóricas desta relação<br />
atualmente sugerem que sistemas unissexuados<br />
são uma consequência do tamanho dos indivíduos<br />
e longevidade, mais do que uma propriedade<br />
física da característica lenhosa per se. Plantas<br />
com um ciclo de vida longo estão mais propensas<br />
a sofrer recombinações abertas e, portanto, têm<br />
maiores possibilidades de selecionar mecanismos<br />
de reprodução cruzada (Steiner, 1988; Barrett,<br />
2002, 2010).<br />
A associação da dioecia com outras formas de<br />
crescimento, como ervas e epífitas (associação<br />
significativa após teste Qui quadrado) e com<br />
trepadeiras e lianas (PCoA), pode ser explicada<br />
sob a hipótese de alocação de recursos. Renner &<br />
Ricklefs (1995) argumentam que nas trepadeiras<br />
o crescimento ascendente acelerado resultaria num<br />
prêmio para a planta. Consideram que a produção<br />
de frutos inibe temporariamente o crescimento ou<br />
requer o desenvolvimento de caules grossos e de<br />
crescimento lento para suportar frutos pesados,<br />
atrapalhando a velocidade de crescimento.<br />
Portanto, poderia ser uma vantagem adiar a face<br />
feminina da planta, que desviaria os recursos do<br />
desenvolvimento vegetativo. Se o efeito for forte,<br />
favorecerá o estabelecimento dos machos na<br />
população. Eles suspeitam que o efeito da seleção<br />
diferencial na alocação dos recursos é responsável<br />
por esse efeito.<br />
Sistemas unissexuados e síndromes de<br />
polinização e dispersão<br />
Vários estudos enfatizam os estados<br />
unissexuados das plantas, por eles serem<br />
mecanismos de cruzamento obrigatório que<br />
favorecem o fluxo gênico entre indivíduos e<br />
populações (Barrett, 2002; Karron et al., 2012).<br />
Isto significa que existe uma rede de interações<br />
entre plantas e vetores de polinização na qual as<br />
plantas dependem desses vetores para conseguirem<br />
se reproduzir de forma sexuada.<br />
Desde os trabalhos de Bawa (1980) e Bawa<br />
& Opler (1985) foi estabelecida uma relação<br />
positiva entre dioecia e polinização por insetos<br />
generalistas em florestas úmidas tropicais. Nestas<br />
florestas, o vento não é um vetor substancial para<br />
a polinização, enquanto a grande disponibilidade<br />
de vetores bióticos sim, tornando-os uma força<br />
diretriz na evolução dos sistemas unissexuados a<br />
partir do hermafroditismo. Contudo, a associação<br />
obtida para as Angiospermas da RNV é da dioecia<br />
com aves e a monoecia com o vento. O trabalho<br />
de Vamosi et al. (2003), que considerou as forças<br />
filogenéticas por trás das relações entre dioecia<br />
e atributos ecológicos, descreve que a anemofilia<br />
está fortemente correlacionada com espécies<br />
dioicas associada também a flores e inflorescências<br />
pequenas. Nas hipóteses filogenéticas por eles<br />
analisadas, não foi possível achar uma sequência<br />
evidente da aparição desta associação e apontam<br />
a necessidade de realizar mais trabalhos para<br />
entender este assunto. Portanto, este fato nos leva<br />
a pensar que talvez a polinização pelo vento nas<br />
florestas tropicais tenha sido subestimada. Segundo<br />
Barrett (2010), a evolução da anemofilia, a partir<br />
da polinização por animais, ocorre quando os<br />
vetores bióticos não são mais confiáveis, por conta<br />
de condições ambientais hostis. Em consequência,<br />
o vento passa a ser um mecanismo que fornece<br />
garantia reprodutiva, embora seja menos eficiente.<br />
A alta frequência de dispersão biótica de frutos<br />
e sementes na RNV associada à dioecia é um reflexo<br />
da alta incidência de frutos carnosos ou sementes<br />
com arilo nessas estas espécies. Alguns autores<br />
consideram este atributo uma consequência<br />
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