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RESERVA NATURAL VALE

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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA <strong>RESERVA</strong> <strong>NATURAL</strong> <strong>VALE</strong><br />

A FLORESTA DE LINHARES NO<br />

CONTEXTO FITOGEOGRÁFICO DO LESTE<br />

DO BRASIL<br />

4Felipe Zamborlini Saiter, Samir Gonçalves Rolim & Ary Teixeira de Oliveira-Filho<br />

INTRODUÇÃO<br />

A exuberante floresta que cobria os extensos<br />

tabuleiros costeiros existentes entre os rios Doce<br />

e Barra Seca foi uma barreira intransponível para os<br />

primeiros colonizadores do norte do Espírito Santo<br />

até o início do século XX (Soares, 1943; Egler,<br />

1951). Contribuiu para isso, não só a expressiva<br />

largura do rio Doce e o leito intransitável do rio Barra<br />

Seca, mas também o medo de ataques das tribos<br />

indígenas (sobretudo de Botocudos) e de “febres”<br />

(como a malária), além da falta de contingente<br />

humano para a colonização (Soares, 1943; Egler,<br />

1951; Ruschi,1954).<br />

A “luta” contra a floresta só começou a ser<br />

vencida pelos colonizadores a partir das décadas<br />

de 1920 e 1930, quando uma ponte sobre o rio<br />

Doce foi construída na cidade de Colatina e uma<br />

estrada ligando a então vila de Linhares e a cidade<br />

de São Mateus foi aberta (Soares, 1943; Egler,<br />

1951). Esses são marcos históricos de um período<br />

de grandes transformações na paisagem natural da<br />

região, com tribos indígenas sendo rapidamente<br />

exterminadas por doenças e a floresta sucumbindo<br />

à exploração madeireira e às queimadas para a<br />

abertura de áreas para a agricultura (Egler, 1951;<br />

Ruschi, 1954).<br />

Atualmente, a Floresta de Tabuleiros entre os<br />

rios Doce e Barra Seca, que chamaremos a partir<br />

daqui de floresta de Linhares, está reduzida a<br />

um bloco florestal com cerca de 48.000 ha e a<br />

pequenos fragmentos florestais inseridos em uma<br />

matriz de atividades agropecuárias (especialmente<br />

pastagens, silvicultura de eucalipto e plantios<br />

de café e mamão) nos municípios de Linhares e<br />

Sooretama (Vicens et al., 2004; Magnago et al.,<br />

2014). O bloco florestal acima referido é composto<br />

pela Reserva Natural Vale (22.711 ha), pela<br />

Reserva Biológica de Sooretama (24.000 ha) e por<br />

duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural<br />

(RPPN Recanto das Antas, com 2.212 ha e RPPN<br />

Mutum Preto, com 379 ha), constituindo o maior<br />

remanescente de Floresta de Tabuleiro do sudeste<br />

do Brasil (Germano Filho et al., 2000).<br />

A diversidade florística na floresta de Linhares<br />

é elevada (Peixoto & Silva, 1997). Dados mais<br />

recentes indicam a ocorrência de cerca de 2.300<br />

espécies de plantas vasculares, dentre as quais<br />

destacam-se algumas dezenas de espécies novas<br />

para a ciência (Germano Filho et al., 2000; Peixoto<br />

et al., 2008). O número de endemismos também é<br />

relativamente alto e muitas espécies amplamente<br />

distribuídas apresentam biotipos distintos nessa<br />

região (Peixoto & Silva, 1997).<br />

Embora o conhecimento botânico na floresta<br />

de Linhares tenha sido impulsionado nas últimas<br />

quatro décadas pelos vários inventários florísticos<br />

e estudos taxonômicos ali desenvolvidos (por<br />

exemplo, Peixoto & Gentry, 1990; Barroso &<br />

Peixoto, 1995; Jesus & Rolim, 2005; Lopes<br />

& Mello-Silva, 2014), ainda são escassas na<br />

literatura científica as discussões sobre a sua<br />

posição no contexto fitogeográfico do leste do<br />

Brasil, principalmente no que tange às relações<br />

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