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RESERVA NATURAL VALE

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SILVEIRA & MAGNAGO<br />

AVES<br />

que, entre os primeiros animais brasileiros a<br />

serem descritos por Pero Vaz Caminha, em 1500,<br />

tenha figurado a arara-vermelha-grande (Ara<br />

chloropterus) e que entre as provas da descoberta<br />

do Novo Mundo pelos portugueses encontravamse<br />

araras e papagaios. Estes foram levados para<br />

Lisboa na nau comandada por Gaspar de Lemos,<br />

enquanto Pedro Álvares Cabral, Pero Vaz de<br />

Caminha e a maior parte da frota continuavam a<br />

viagem originalmente destinada à Índia. Graças<br />

às decisões portuguesas sobre as estratégias de<br />

colonização do Brasil, os recursos naturais e a fauna<br />

e flora brasileiras permaneceram muito pouco<br />

conhecidos (até mesmo e, paradoxalmente, pelos<br />

próprios portugueses) até a chegada da Família<br />

Real Portuguesa, em 1808, com a consequente e<br />

inevitável abertura dos portos às nações amigas<br />

(Schwarcz & Starling, 2015).<br />

Excetuado pelo breve período da ocupação<br />

holandesa no nordeste brasileiro, o país permaneceu<br />

historicamente fechado aos pesquisadores<br />

e estudiosos durante três séculos, com uma<br />

enorme extensão territorial completamente<br />

inexplorada e com sua biodiversidade inalterada.<br />

Até que, de repente, abre-se a oportunidade<br />

para ser, finalmente, estudado. Quem, tendo a<br />

oportunidade, não iria tentar gravar para sempre o<br />

seu nome na história da ciência apresentando para<br />

o mundo as novidades de um novo e desconhecido<br />

país? O Brasil, a partir da abertura dos portos,<br />

foi invadido por pesquisadores, principalmente<br />

alemães e austríacos, também impulsionados pelo<br />

grupo que veio acompanhando a arquiduquesa<br />

Maria Leopoldina, entusiasta das ciências naturais<br />

e recém-casada (por procuração) com o Príncipe<br />

Dom Pedro. É fato curioso e ainda muito pouco<br />

explorado pelos pesquisadores contemporâneos,<br />

o baixo número de ingleses pesquisando o<br />

Brasil. Estes, tal qual os alemães e austríacos,<br />

historicamente sempre se interessaram pela<br />

exploração científica e, aliados de primeira hora dos<br />

portugueses, estranhamente não se aproveitaram<br />

da oportunidade de explorar cientificamente o<br />

Brasil antes dos cientistas de outros países.<br />

A invasão de pesquisadores que se sucedeu<br />

após a abertura dos portos foi, como se esperava,<br />

altamente benéfica para o conhecimento da nossa<br />

biodiversidade. A porta de entrada no Brasil foi<br />

a cidade do Rio de Janeiro. Logo, as primeiras<br />

explorações científicas começaram exatamente no<br />

bioma Mata Atlântica. Naturalistas célebres, como<br />

o Barão Georg Heinrich von Langsdorff, Friedrich<br />

Sellow, Johann Natterer, Johann Baptist von Spix e<br />

Carl von Martius, escreveram seu nome na história<br />

ao perscrutar, enfrentando as mais duras condições,<br />

uma parte importante do Brasil, contribuindo de<br />

forma inestimável para o conhecimento das nossas<br />

riquezas naturais em um momento em que as<br />

atividades humanas ainda não haviam impactado<br />

significativamente o nosso meio ambiente.<br />

O primeiro naturalista que percorreu a região<br />

de Linhares, quando esta ainda era um pequeno<br />

povoado, foi o célebre Príncipe Alexander Philipp<br />

Maximilian zu Wied-Neuwied, explorador alemão<br />

que se interessava não apenas pela fauna e flora,<br />

mas também com uma marcante atuação no campo<br />

da etnologia. O Príncipe desembarcou na cidade do<br />

Rio de Janeiro, em 1815, embarcando em Salvador<br />

para voltar à Alemanha, em 1817. Durante os dois<br />

anos em que permaneceu no Brasil, Wied trabalhou<br />

especialmente na Mata Atlântica de baixada,<br />

com breves incursões na Caatinga e no Cerrado.<br />

Ele passou pela região de Linhares em dezembro<br />

de 1815, onde registrou diversas espécies de<br />

aves. Durante os quase 100 anos subsequentes,<br />

esta região permanece sem qualquer exploração<br />

relevante, até que Ernst Garbe, naturalista-viajante<br />

do Museu Paulista (hoje Museu de Zoologia da<br />

Universidade de São Paulo – MZUSP), percorreu a<br />

região em diversas viagens empreendidas nos anos<br />

de 1905, 1906, 1908, 1909 e 1926, coletando<br />

exemplares para este museu (Paynter & Traylor,<br />

1991).<br />

Regiões próximas à RNV, igualmente ricas<br />

e desconhecidas, foram exploradas por outros<br />

naturalistas e coletores. A Lagoa Juparanã foi<br />

amostrada também por Ernst Garbe, em 1906,<br />

bem como pela ornitóloga alemã Emilia Snethlage<br />

(1925) e pelo naturalista alemão Emil Kaempfer<br />

(1929). Inventários mais detalhados na região<br />

onde se situa a RNV foram desenvolvidos pelos<br />

ornitólogos Adolf Schneider e Helmut Sick (1939-<br />

1942) e por Olivério Pinto (1942). A RBS foi<br />

também explorada, entre outros, por Álvaro<br />

Aguirre (entre 1939 e 1970), Helmut Sick (1954,<br />

1961 e 1977) e, mais modernamente, por Dante<br />

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