RESERVA NATURAL VALE
livrofloresta
livrofloresta
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
LIMA ET AL.<br />
MORCEGOS<br />
com coletores e redes nas parcelas, foi mantida<br />
uma distância de cerca de 100 metros entre esses<br />
dispositivos, visando evitar eventual interferência<br />
do chamado de “distress” de morcegos capturados<br />
nas redes sobre a chuva de sementes. Essas<br />
vocalizações poderiam atrair outros morcegos<br />
para o ponto de captura (p. ex., Simmons & Voss,<br />
1998) e incrementar artificialmente o número de<br />
sementes depositadas nos coletores.<br />
Os morcegos capturados eram analisados quanto<br />
à presença de diásporos transportados oralmente<br />
e, em seguida, eram colocados individualmente<br />
em sacos de pano, onde eram mantidos por pelo<br />
menos 30 minutos antes da soltura para obtenção<br />
das amostras fecais. Os diásporos transportados<br />
oralmente eram acondicionados individualmente<br />
em sacos plásticos etiquetados. Após soltura dos<br />
morcegos, os sacos de pano eram guardados e<br />
vistoriados em laboratório para acondicionamento<br />
das amostras fecais em sacos plásticos<br />
individualmente etiquetados. Os procedimentos<br />
de identificação e tombamento de testemunho<br />
desse material foram os mesmos descritos para as<br />
sementes obtidas nos coletores.<br />
O Laboratório de Mastozoologia da UFRRJ<br />
também abriga material testemunho referente<br />
aos morcegos da RNV, capturados e colecionados<br />
de acordo com licença emitida pelo ICMBio/<br />
Sisbio (158 9-1). Esses morcegos encontram-se<br />
preservados sob a forma de pele cheia ou em meio<br />
líquido (álcool 70%).<br />
Análise de Dados<br />
Para avaliar se os esforços amostrais nos<br />
diferentes métodos foram suficientes para<br />
detectar a riqueza de interações entre morcegos<br />
e frutos na RNV, foram construídas curvas do<br />
coletor randomizadas. Tendo em vista que não<br />
houve estabilização em nenhum dos casos, foram<br />
empregados estimadores não paramétricos de<br />
riqueza de espécies. Em ambos os casos as análises<br />
foram efetuadas no programa R (R Core Team,<br />
2015), utilizando-se o pacote Vegan (Oksanen<br />
et al., 2015). Foi avaliada ainda a importância de<br />
cada espécie frugívora no processo de dispersão<br />
de sementes a partir do índice de importância de<br />
dispersão (IID), proposto por Galindo-González et<br />
al. (2000). Este índice é dado pela fórmula IID = (S<br />
× B)/1000, onde S é a porcentagem de amostras<br />
fecais com sementes obtidas de uma dada espécie<br />
de morcego e B é a abundância relativa dessa<br />
espécie, aqui representada por sua frequência<br />
relativa de captura.<br />
RESULTADOS<br />
Chuva de Sementes<br />
Os coletores receberam 3.570 diásporos,<br />
dos quais 3.527 foram identificados pelo<br />
menos em nível de família e 43 apenas até<br />
morfoespécie. Foram reconhecidas 37 famílias e<br />
95 espécies ou morfoespécies no primeiro grupo,<br />
e 17 morfoespécies no segundo, totalizando<br />
112 espécies ou morfoespécies (Tabela 2). A<br />
grande maioria dos diásporos que alcançaram<br />
os coletores foi classificada como zoocórica (n =<br />
1.742; 49%) ou anemocórica (n = 1.519; 43%),<br />
ficando as autocóricas com menos de 10% do total<br />
(n = 266) (Figura 4A). O número de espécies de<br />
plantas com diásporos zoocóricos nos coletores,<br />
entretanto, foi superior ao dobro do observado<br />
para os anemocóricos (n = 73 vs. 28), enquanto<br />
os autocóricos (n = 11) permanecem em pequena<br />
proporção (Figura 4B).<br />
Dos 1.742 diásporos zoocóricos, 1.127<br />
chegaram aos coletores durante a noite (65%),<br />
sendo a maioria deles (n = 1.118; 99%) atribuída<br />
aos morcegos 2 . Esses diásporos associados à<br />
quiropterocoria permitiram a identificação de<br />
15 espécies, pertencentes a 11 famílias, ficando<br />
apenas quatro diásporos reportados apenas como<br />
morfoespécies (Tabela 2). Frutos do gênero Ficus<br />
corresponderam a 77% dos diásporos identificados<br />
pelo menos em nível de gênero e foram reconhecidos<br />
em quatro espécies. O segundo táxon com maior<br />
representatividade foi Solanum, com 14% dos<br />
diásporos, ficando em terceiro Phyllodendron, com<br />
5%. As famílias com maior representatividade de<br />
espécies foram Moraceae (n = 4) e Urticaceae<br />
(n = 2). Os coletores localizados na área aberta<br />
2 A associação desses diásporos com morcegos e não com outros animais noturnos (p. ex., marsupiais, roedores arborícolas) foi feita através de<br />
suas características (p. ex., tamanho, dureza) e do tamanho das fezes nas quais eles foram coletados (nos casos de endozoocoria). Descartouse<br />
também a possibilidade de aves empoleiradas em repouso sobre os coletores da mata terem contribuído para a chuva de sementes nesse<br />
local, já que o material fecal nesse grupo apresenta depósito de ácido úrico (pasta branca insolúvel em água), sendo facilmente identificável.<br />
4 3 7