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RESERVA NATURAL VALE

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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA <strong>RESERVA</strong> <strong>NATURAL</strong> <strong>VALE</strong><br />

tecnologia necessária já está disponível (Pinto et al.,<br />

2012; Scarano, 2014b). A efetiva implementação<br />

do Pacto demandará projetos que gerem benefícios<br />

legais, sociais, ambientais e econômicos para<br />

proprietários e outros atores. A possibilidade de<br />

geração de renda e negócios a partir, por exemplo,<br />

da produção e do plantio de mudas ou da coleta<br />

de sementes, por vezes demandará treinamento e<br />

capacitação de atores locais (Pinto et al., 2014).<br />

Dessa forma, os esforços de restauração podem<br />

simultaneamente recuperar o capital natural e<br />

reduzir a pobreza, aumentando a resiliência da<br />

sociedade às mudanças climáticas (Scarano &<br />

Ceotto, 2015). Tais ações aumentam o potencial<br />

de sequestro de carbono e promovem organização<br />

comunitária, geração de renda e melhoria de vida<br />

em áreas rurais (Chazdon, 2008), como já vem<br />

sendo demonstrado em alguns trechos de Mata<br />

Atlântica (Calmon et al., 2011; Rodrigues et al.,<br />

2011).<br />

UM DESAFIO PARA A CIÊNCIA<br />

Desafios locais ou nacionais, como no caso da<br />

Mata Atlântica, até problemas globais impostos à<br />

conservação da biodiversidade, demandam ação<br />

com base em ciência. Entretanto, a característica<br />

predominantemente disciplinar da ciência dos dias<br />

de hoje gera dúvidas sobre sua capacidade em<br />

fornecer a tempo os instrumentos e orientações<br />

necessárias para que melhores práticas e políticas<br />

públicas possam surgir. A natureza inter- e<br />

transdisciplinar do desafio do desenvolvimento<br />

sustentável impõe a necessidade de uma ciência<br />

capaz de integrar múltiplas disciplinas (Simon &<br />

Schiemer, 2015).<br />

Dessa maneira, existe hoje um acirrado debate<br />

acerca do presente e do futuro da ciência da<br />

conservação da biodiversidade. Existem pelo<br />

menos três visões, não mutuamente excludentes,<br />

que discutimos a seguir: a) a tradicional ciência da<br />

conservação (TCC); b) a nova ciência da conservação<br />

(NCC); e c) a ciência da sustentabilidade. O intenso<br />

debate na literatura atual diz respeito às diferenças<br />

de perspectiva (e até mesmo ideológicas) entre<br />

as duas primeiras, a TCC e a NCC. Para resumir<br />

essa longa discussão (ver Soule, 2013; Doak<br />

et al., 2014; Kareiva, 2014; Miller et al., 2014),<br />

a TCC é acusada de ser centrada na natureza<br />

exclusivamente, enquanto a NCC é acusada de<br />

antropocêntrica e utilitarista.<br />

Doak et al. (2014) fazem um balanço das<br />

principais críticas que essas duas abordagens<br />

recebem. Para os ‘novos conservacionistas’, a<br />

conservação tradicional, a) pode implicar problemas<br />

sociais ou econômicos, ao enfatizar a proteção<br />

da biodiversidade sem atentar para o bemestar<br />

humano; b) se baseia no mito da natureza<br />

pristina, que de fato não existe; c) assume, muitas<br />

vezes de maneira equivocada, que a natureza é<br />

inerentemente frágil e incapaz de se recuperar de<br />

intervenções humanas e d) falhou em proteger a<br />

biodiversidade já que, apesar de 13% do território<br />

do planeta estar dentro de áreas protegidas, as taxas<br />

de extinção de espécies continuam alarmantes. Por<br />

outro lado, para os conservacionistas tradicionais,<br />

a) a base científica da ‘nova conservação’ é fraca;<br />

b) as prioridades da NCC são de fundo ético e não<br />

científico; c) motivações econômicas nem sempre<br />

são predominantes e d) não há evidência que a NCC<br />

possa corrigir as eventuais falhas da conservação<br />

tradicional.<br />

Controvérsias à parte, naturalmente que resta a<br />

impressão que as duas abordagens são importantes<br />

e até certo ponto complementares. Todavia, a<br />

característica essencialmente transdisciplinar dos<br />

desafios globais – clima, biodiversidade, alimentos,<br />

etc. – demanda um tratamento científico também<br />

transdisciplinar e que, no Brasil, ainda é um tanto<br />

raro. A chamada “ciência da sustentabilidade” se<br />

propõe a oferecer esse tratamento. O surgimento<br />

do controvertido conceito de desenvolvimento<br />

sustentável na década de 1980 foi seguido<br />

da construção de uma ciência para tratar do<br />

tema. Essa ciência tem uma agenda de pesquisa<br />

que simultaneamente requer rigor científico<br />

transdisciplinar (Lang et al., 2012) e foco em<br />

promover impactos sociais positivos e mensuráveis<br />

(Bettencourt & Kaur, 2011). O desafio central<br />

consiste em integrar perspectivas de sociedades<br />

desenvolvidas e em desenvolvimento, de disciplinas<br />

teóricas e aplicadas, de ciência e política (Ascher<br />

2007; Aronson, 2011). Com sua pouca idade –<br />

apenas cerca de 30 anos – a chamada ciência da<br />

sustentabilidade já tem um forte arcabouço teórico<br />

e até revistas científicas importantes inteiramente<br />

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