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COSMOS

cosmos_de_carl_sagan

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século VI A.C. em Jônia, foi desenvolvido um conceito novo, umadas grandes idéias da espécie humana. O universo era cognoscível,argumentavam os antigos jônicos, porque apresenta uma ordeminterna: há regularidades na Natureza que permitem que os seussegredos sejam desvendados. A Natureza não é inteiramenteimprevisível, há regras a serem obedecidas. Esta característicaordenada e admirável do universo foi chamada de Cosmos.Mas por que Jônia, por que nestas terras modestas e bucólicas,estas ilhas e enseadas remotas no leste do Mediterrâneo? Porque não em grandes cidades da índia e do Egito, Babilônia, Chinaou América Central? A China possuía uma tradição astronômicamilenar; tinha inventado o papel, a imprensa, foguetes, relógios,seda, porcelana e navios de alto-mar. Alguns historiadores dizemque foi por ser uma sociedade muito tradicionalista, não predispostaa aceitar inovações. Por que não a índia, uma cultura extremamenterica, que pendia para a matemática? Sustentam algunshistoriadores, em decorrência de uma fascinação rígida por umaidéia de um universo infinitamente velho condenado a um ciclo semfim de mortes e renascimentos, de almas e universos, nos quaisnada fundamentalmente novo podia jamais acontecer. Por que nãoas sociedades Maia e Asteca, perfeitas em astronomia e cativadas,como a índia, pelos grandes números? Declaram algunshistoriadores, por terem perdido a aptidão ou o ímpeto pelainvenção mecânica. Os Maias e Astecas não inventaram nem —exceto em brinquedos — a roda.Os jônicos tinham várias vantagens. Jônia era uma regiãoinsular. O isolamento, mesmo incompleto, gera a diversidade. Commuitas ilhas diferentes havia uma variedade de sistemas políticos.Nenhuma concentração de poder poderia forçar uma conformidadesocial e intelectual em todas as ilhas. A livre investigação tornou-sepossível. A promoção da superstição não era considerada umanecessidade política. Diferente de muitas outras culturas, os jônicosestavam na encruzilhada das civilizações, e não em um de seuscentros. Na Jônia, o alfabeto fenício foi primeiro adaptado ao usogrego, tornando possível a expansão da aptidão para as letras. Aescrita não era mais monopólio dos sacerdotes e escribas. Ospensamentos tornavam-se disponíveis à consideração e ao debate.O poder político estava nas mãos dos negociantes, quepromoveram ativamente a tecnologia, da qual dependia a suaprosperidade. Foi no leste mediterrâneo que as civilizaçõesafricanas, asiáticas e européias, incluindo as grandes culturas doEgito e da Mesopotâmia, se encontraram e se mesclaram em umaconfrontação vigorosa e impetuosa de preconceitos, linguagem,idéias e deuses. O que fazer quando nos deparamos com váriosdeuses diferentes, cada qual clamando pelo mesmo território? Obabilônio Marduk e o grego Zeus eram considerados senhor do céue rei dos deuses. Teremos que decidir se Marduk e Zeus eramrealmente o mesmo. Teremos também que decidir, já que possuematributos bem diferentes, se um dos dois foi meramente inventadopelos sacerdotes. Mas se um o foi, por que não ambos?A Espinha Dorsal da Noite - 175

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